FELIZ AMOR, TÃO INGRATA DOR...

Sábado fui passear em uma fazenda, um pouco longe, mas valeu a pena. Ao acordar no domingo, bem cedinho, fui fazer uma caminhada e já cansado, parei próximo a um Senhor que estava consertando uma cerca. Então começamos a conversar. Engraçado como tem pessoas que se identifica com a gente tão rapidamente. Este senhor foi uma dessas pessoas. Muito simpático.

Não é que, em uma de suas conversas, aquele senhor começou a dissertar sobre sua grande agonia, qual seja, um laço amoroso que se desfez, quando ainda era muito jovem, aos 26 anos, hoje, com seus 76 anos, ainda pensa naquele amor todos os dias...

Pensei comigo: quem foi que disse que os grandes casos de amor estão nos filmes, lêdo engano! Estão em todos os cantos, bem próximos a nós mesmos.

Nunca é um termo muito forte e ingrato. Forte pelo pacto em si mesmo de querer algo que não nos é concedido - o futuro a Deus pertence. Ingrato com fulcro nos acontecimentos do dia-a-dia em que às vezes somos tragados pela acaso. Santo Agostinho dizia que: "Tudo posso, mas nem tudo me é permitido!"

Dizia aquele Senhor, com sua voz rouca e bem passiva, "..."ela partiu para ser feliz e disse-me nunca mais. Ocorre que a felicidade é um termo bastante particular, não restam dúvidas, cada um do seu jeito e a sua maneira".

Continuou ele, com os olhos já um pouco mais úmidos: "...Às vezes encontramos pessoas que querem definir como se é feliz. Parece uma receita mágica: esforce, estude, ganhe dinheiro, case com uma pessoa boa etc; vá lá, pode até dar certo, não duvido, no entanto, a melhor maneira, a meu ver de ser feliz é, invariavelmente, seguir as diretrizes de seu coração. E assim sucedeu nosso desencontro, ela de um lado e eu, do lado contrário, ou melhor, seguindo meu caminho. Confesso, senti muito sua falta, mas encontrei novas paixões, melhor, encontrei-me no meu vazio ao tentar esquecê-la. E como foi bom! Como bem definiu Kant: "paixão é o charco que cava o próprio leito, infiltrando-se, paulatinamente, no solo". Então preferi as águas tranquilas do amor. Ocorre que me enganei, o que deveras pautava meu coração e que, ainda hoje o faz bater descompassado é aquela primavera em que estive junto, bem junto dela."

Pois bem, pensei comigo: não sou de atirar pedras em vidraças alheias, não! A minha também pode ser atingida. Então parto da máxima que diz: "faça aos outros o que gostaria que fosse feito a ti mesmo!". Mas ao mesmo tempo, uma pessoa passar 50 (cinquenta) anos de sua vida, pensando em outra e por orgulho não a procurar... sei não! Melhor não enveredar-me por este viés da crítica. Melhor é respeitar.

Quando dei por mim, a esposa daquele senhor o chamava para almoçar, convite que também se estendeu a mim, no entanto, já havia assumido o compromisso de almoçar em outro lugar. Mas ficou o doce sabor de uma próspera amizade. Como deleitei daqueles momentos que se passaram tão rapidamente ao lado daquele senhor...

Já de retorno à fazenda, todos estavam preocupados comigo, perguntando se havia me perdido ou algo mais sério, como algum bicho havia me mordido. De imediato, pedi a todos desculpas, dizendo-lhes que adoro o verde e sempre aprendo muito com a natureza.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 30/03/2008
Reeditado em 31/03/2008
Código do texto: T923871