"O PRIMEIRO VALISÉRE A GENTE NUNCA ESQUECE"
Não esquece mesmo! Aperta, sufoca, coça, pinica, e, via de regra, fica ridículo porque, aos treze, tudo o que você tem de peito mesmo é a vontade de tê-los e aquela pressa imensa do tempo passar, fazer dezoito, tirar carteira de motorista, livrar-se das espinhas, terminar o tratamento ortodôntico, ser dona do seu nariz e, claro, se possível antes dos dezoito, perder a virgindade.
Lá pelos dezesseis você já tem peito, já se acostumou com a merda do sutiã, as espinhas só estouram na TPM, usa aparelho móvel de retenção, seu nariz ainda não é completamente seu mas você já tem mais autonomia e, como a carteira de motorista ainda vai ter que esperar um par de anos, hora de começar a trabalhar na tal da virgindade. Primeiro, virginiana que é, você lê tudo sobre o tema, de revista pornô à enciclopédia britânica, já sabe tudo sobre camisinha, tabelinha e outras coisinhas, e finalmente descobriu que é clitóris, e não clítoris. Claro, você acha que já sabe tudo, portanto, agora só falta mesmo um namorado, mas digo um namorado de verdade, não os bostinhas de até então, afinal você não vai dar prá qualquer um o que você não achou no lixo, pelo menos não de primeira né...
Aí você sai à caça... Namorado um: muito devagar, nessa velocidade não perco a virgindade antes dos trinta, você pensa; Namorado dois: muito grande, talvez no futuro; Namorado três: muito pequeno... nem tanto ao mar nem tanto à terra, “Só pode ser piada cósmica!” - esbraveja você, já beirando os dezessete, convencida de que deve ser a única virgem da face da terra em idade tão avançada.
Na verdade você só está com medo, ou não achou o cara que lhe fez suar frio, ou ambos... ainda. Tudo tem seu tempo, mas você não tem tempo, vive com a certeza absoluta de que qualquer dia desses, bem iminente, vai acordar com quarenta anos e que quarenta anos é o fim da vida.
Hoje, beirando os quarenta, muitos amores (certos e errados) depois, sabe que não é bem assim, anda meio nostálgica, olha prá tras e sente saudade das bobeiras da meninice, com um riso meio acri-doce vendo o quão pequenas são de fato as imensidões daqueles tempos, não se arrepende de nada, nem dos erros, a não ser de uns dois ou três que não cometeu e que, agora, não tem mais a desculpa da tenra idade pra cometer. Não esqueceu o primeiro valisére, não esqueceu o primeiro amor e, por hora, também ainda não esqueceu o último pé-na-bunda.