Empastado

Tem alguma coisa me enjoando. É alguma coisa no ar. Irrita a garganta e deixa a gente enjoado.

Há muito tempo, uns três anos, senti um cheiro engraçado. Daí, um cheiro doente. Impregnado. Se eu pintasse o quarto de novo, quem sabe... O quarto, porque é onde vivo. Daí que o cheiro enjoou. Não sei como seria sem ele. Não sei como os vizinhos não reclamam.

Mas hoje o cheiro está pior. Está horrível! Está denso, está pesado. Como se cobrasse a força alguma coisa. Como se fizessem só de sacanagem. Parece que gruda no cabelo, na roupa, na pele, na gente mesmo.

Era mesmo como se o cheiro tivesse forma, como se dissesse que tem forma. Como se me perseguisse pelo olfato. Um cheiro doente. Um cheiro empastado.

Mas hoje o cheiro estava muito pior. Voltou do comercial, baixei um pouco o volume. Criaram um círculo de poesia e literatura no Sesc. Vomitei.

Veio você pra me ajudar.

- Quer que eu vá até o banheiro contigo?

O cheiro era seu.