Série "Ditados na berlinda" 7: Devagar se vai ao longe?

Avenida dos Bandeirantes, São Paulo. Quem conhece sabe: um martírio, a qualquer hora do dia (e às vezes da noite). Caminho que leva ao Aeroporto de Congonhas e às duas estradas que ligam São Paulo ao litoral Sul, o que significa Santos e seu movimentadíssimo porto.

Também é a avenida que praticamente corta a zona sul, acessa a Marginal do Rio Pinheiros e interliga um sem número de bairros lotados de edifícios comerciais, cujas empresas que os ocupam se utilizam da agilidade das motocicletas para que documentos e objetos importantes cheguem ao seu destino com rapidez. A Vila Olímpia, numa das pontas daquela avenida, é a campeã das empresas de motoboys da cidade.

Assim, das quatro faixas da avenida, as duas da direita são praticamente exclusiva dos inúmeros caminhões de carga que por ali trafegam diariamente. Comecei a fazer a conta: imaginando humildemente que cada caminhão daqueles meça cerca de 10 metros, teremos, em mil metros, perto de 100 caminhões. Em duas fileiras, são 200. Levando-se em conta que a Avenida dos Bandeirantes tem 8,5 quilômetros de extensão... bem, é só multiplicar.

E, quantos aos motoqueiros, infelizmente a velocidade e a freqüência com que passam por ali impedem qualquer estimativa de quantificação.

Pois era nesse cenário que me encontrava às quatro da tarde, ainda muito longe do fatídico horário do rush, porém ele já estava dando o ar (poluído) de sua (des)graça . Estava praticamente parada na segunda faixa, ao lado da muralha de caminhões, e precisava ir para a primeira, aquela mais à esquerda. Mas não conseguia, pois uma enxurrada de motos com a buzina ligada fluía, sem diminuir a velocidade, entre as duas faixas. Quando finalmente as motos deram uma trégua e eu consegui pedir licença a um motorista simpático, entrei à esquerda.

Mas o trânsito, que já vinha muito devagar, parou repentinamente, e eu fiquei naquela posição incômoda e bastante vulnerável de sete oitavos do carro numa faixa e um rabicho na outra. Nisso as motos começaram a voltar, buzininhas estridentes à toda. Porém, felizmente, o carro da frente andou um pouco e eu consegui enfiar o meu inteiro no exíguo espaço que me coube, antes que a enxurrada de motos recomeçasse.

Só que o motoqueiro à frente desta segunda leva ficou inconformado: como este carro ousou cruzar nosso caminho? Como pode quase obstruir nossa “faixa exclusiva”? Para punir minha irreverência, deu um soco no meu retrovisor, entortando-o.

Por um segundo pus de lado meus tantos anos de yoga e, revoltada com a injustiça, enfiei a mão na buzina, num grito de protesto. Mas de nada adiantou, evidentemente, o que só fez com que me arrependesse da atitude. E continuei na toada. Estava há uma hora dentro daquele carro, e pelo andar (?) da carruagem, mais uma hora me aguardava.

Parada no meio do congestionamento, retrovisor direito com problemas visuais, sem música, sem poder falar com ninguém ao celular para não ser multada e com os vidros fechados para evitar assalto, fiquei pensando no ditado: devagar pode-se ir ao longe, sem dúvida, mas na cidade de São Paulo, na enorme maioria das vezes, ao longe só se vai devagar. MUITO devagar.

(A não ser, é claro, que se tenha uma motocicleta...)