A primeira-dama!
Mais um dia de inauguração na praça, uma nova escola, solenidade marcada para as dez horas da manhã, mas desde a madrugada Dionizia, os simplesmente “Dió”, já chegara ao local, vinda sonolenta no caminhão de entrega do leite, procedente da zona rural de onde raramente saia. Veio por que lhe disseram, por mentira e brincadeira, que as primeiras damas que ali chegassem receberiam cestas básicas, em que até goiabada tinha. Marmelada é coisa que pobre pouco sabe o que e! Não presumindo assim que em festa de político o preferencial é marmelada, o duplo mentiroso disse que seria dado goiabada.
Para "Dió" além de “mulher-dama”, como são chamadas eventuais prostitutas, havia também “solteironas-damas”, condição em que procurava se enquadrar. Não se preocupava se alguma pessoa falasse dela, afinal do meio do matagal sai muito barulho é de grilo, pois se alguum atrevido cantasse para ela aquela musiquinha: “O que é que você foi fazer no mato Maria Chiquinha?”, ela trancava os ouvidos, e nem atenção dava. “É tudo grilo!”, dizia.
Reparando que no local da inauguração ainda não havia nenhuma dama, quando ela chegou, a não ser ela mesmo, procurou um cantinho para esperar. Apenas um guarda que tomava conta dos palanque, “Dió” então sentou-se no lugar onde ela presumiu que começaria a distribuição de uma das tantas bolsas, que hoje sem nenhuma pretensão (acreditem), o governo distribui aos pobres. Cochilou e só teve companhia lá pelas nove horas, quando começaram a chegar outras mulheres. Mas ela era a primeira. Para isto acordou antes de ouvir o galo cantar, e o leiteiro também!
Chegou a hora de entregar ao povo a nova escola, não sacola como a fizeram entender. O locutor se ajeita perante a um grande público misto; damas, valetes e reis, puxa sacos e em um canto o mentiroso que fizera “Dió” ir ao local da ilusão, que se já demostrava risos, riria a não se conter, quando a inocente mulher, vencendo o sono e o cansaço, se colocou lá na frente, como se atrás dela se formaria uma longa fila. Neste momento o locutor anuncia a chegada do prefeito e esposa, e cortez convida: “Já conosco a primeira-dama, convidamos a subir no palanque”, e esticou a mão para aquela bem arrumada senhora, deixando no ar mão de "Dió". Foi ai que um grito se rompeu: “Vamos dizer a verdade, a primeira dama sou eu”. O dia foi de confusão na casa do prefeito!