AMIZADE, UMA MÁSCARA?

Hoje me veio à mente uma questão que pode ter te preocupado alguma vez. De que me vale uma cidade inteira de amigos e ser tão sozinho? Amigo é para todas as horas, dizem por aí, mas acontece que nem todas as horas são para amigos. É muito fácil estar junto quando tudo está bem, quando não se precise gastar muito por alguém, quando se é fácil satisfazer-se sem que, necessariamente alguém esteja satisfeito.

Existem muitas implicações que contribuem para frustrar uma amizade. Pode ser que ela seja apenas um oásis, tendo assim uma bela aparência, contudo sem base, sem fundação e quando se dá conta foram apenas ilusões alucinógenas ou simplesmente esperanças perdidas. Podemos ter gostos semelhantes, mesmos anseios, mas não somos todos iguais. Daí, um amigo pode corresponder positivamente com outro novecentas e noventa e nove vezes, mas se na milésima houver discordância será o bastante para abalar a estrutura da amizade. Se essa estrutura for suficientemente fundada e firmada não passará de um simples abalo, se não será a erosão que pode ser lenta ou violenta, mas fará ruir, hoje ou amanhã, a amizade.

É de se perguntar: --se nós não temos, ou melhor, muitas vezes não temos condições de manter uma amizade imparcial, pura e sem misticismos filosóficos, ainda somos seres sociais? Bem, somos seres sociais na medida em que a individualidade suscita fragilidade e a união faz a força. Melhor me unir a alguém para lutar do que perder sozinho. Se perder, o fiasco pode ser menor quando dividido for. Na vida todos enfrentam situações diversas e adversas, então como correr os riscos sozinho?

Por isso, eu prefiro pensar que nós somos parecidos com ilhas, separadas e perdidas, flutuando no oceano da existência e, de acordo com o balançar das ondas e do vento, se aproximam e se distanciam. Isso porque somos mundos isolados num espaço gigante. Sendo assim, temos aspectos gerais que nos identificam como pertencentes a um mesmo espaço, e aspectos particulares que nos isolam como mundos solitários. Não importa o quanto custe, não abrimos mão destes. Seria como uma intimidade preservada a todo custo que não pode ser corrompida por nada e por ninguém. Isso impede, quase sempre, que se fundamente e que se alicercie uma grande amizade. Por isso os amigos são poucos!

Não custa lembrar que a amizade é um laço afetivo que se estabelece a dois e não consigo mesmo. O afeto para com o amigo deve ter como medida o amor para consigo mesmo, sem o qual a amizade nem existe, podendo desaparecer a qualquer momento.

Parece que sou muito pessimista quanto ao assunto, mas a verdade é que sou muito otimista, pois acredito ainda que se possa ter uma amizade sem máscara, sem falsas aparências. O que vale é o que é e não o que parece ser.

“Ame o próximo como a si mesmo...”, não são palavras minhas, mas pode ser a chave da caixa de soluções para o problema. Últimas palavras!