PASSA A RÉGUA!

– “Truuuuucoooo!”

– “Seeeeiiiiis ‘mio’ ladrão!!!!!! Mostra!!!”

...

...

“Ou dá ou desce!... Ou caga ou sai da moita!”... – ensaiava essas palavras entre um gole de vinho e um bocado de vargem mas sabia que jamais iria efetivamente dar cabo de dizê-las... Devia! Devia rasgar o verbo, correr os riscos, pagar prá ver, ligar o “foda-se”... mas não ela... não hoje... Não estava pronta e sabia disso. Seria um blefe, além de grosseiro, e ela não era boa nem em uma coisa nem em outra.

Às vezes a vida é uma dança, às vezes um jogo de truco... prá ela, que não jogava nem dançava, a vida era só – sempre – complicada... às vezes um terreno árido cheio de orquídeas possíveis, às vezes uma terra-roxa d’onde não brota nada, e a verdade é que, prá ela que, mesmo sendo AM/FM, estava numa daquelas fases em que você não “pega” nem gripe ou piolho, além de complicada, a vida andava um verdadeiro H2O... inodora, incolor e absolutamente insípida...

Precisava – sabia – visitar o dentista, o ginecologista, o oftalmologista, o massagista, a esteticista, o terapeuta... não! Esse último melhor não... além de não rimar, já tinha trabalho demais tentando lidar com os problemas que sabia que tinha, não era exatamente um bom momento prá tomar consciência de mais nenhum... há circunstâncias em que a ignorância é uma bênção, essa era uma delas.

– “Abre o tarot prá mim?”

“Só pode ser piada!” – pensava – “Claro!” – respondia... “Besta!” – concluía em silêncio consigo mesma e sobre si mesma... “Comeu a carne, roeu o osso, e agora ainda quer palitar os dentes???”... haja sangue frio... só enchendo a cara mesmo... seja a sua de álcool ou a alheia de porrada, isso é só uma questão de ponto-de-vista... ainda que de vista turva...

– “Posso pedir a conta, baby?”

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 28/03/2008
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