Ao Nosso Encontro

Ao nosso encontro

Falei demais. Ultimamente, e já é a quarta vez esse mês, com pessoas diferentes, assuntos idem, ando cometendo uma infantilidade que supunha extraída. Mas infantilidades não são dentes do siso. E aí fica um pensamento aterrorizante: já imaginou se dentes do siso voltassem?

Quanto ao encontro, no caso dessas linhas, o termo não remete ao romantismo onde me vejo com uma rosa e ela com um sorriso. O encontro aqui sublinhado remete aos mares do Vinicius e a arte dos que supunham nunca terem se visto, de repente sentirem-se açambarcados pela paz e no conforto da intimidade.

Encontros, com a costureira, com o leiteiro, conversas que a vida tem com a gente através de falsos estranhos. E o momento propicia e a gente diz intimamente: “mundo, vasto mundo”. Dos encontros.

Todavia nesse dia e a despeito da devida importância de mais esse encontro, eu que já me achava livre desse cacoete, me vi palmilhando os mesmos passos: querendo ser compreendido ao invés de compreender. E quando a gente faz isso, a gente fala demais. E na melhor da intenções, torna-se um chato. Até porque chatos às vezes são muito bem intencionados. Mas essa não é a questão. A questão foi que houve um encontro, o que já é um começo, e que ele seja celebrado nos melhores dos conformes, a sintonia é fina, uma das partes torce para o Bangu, outra para o Aracaju, e isso não impede o valor da conjuntura, amizade é feita para somar, achar as intersecções e regá-las com as águas do Gonzaguinha, que, segundo ouvi dizer, achou um “lindo lago de amor”. Ah, e tomou um banho de água fresca. Porque encontros de novos, novos um para o outro, tem gosto de água fresca. Novos um para o outro vem sem ranço, sem mágoas, sem ego. E já faz um tempo que às vezes consigo por em prática a tradução das palavras que vem do outro. Porque tudo que vem do outro tem ser traduzido. Essa, na minha opinião, é uma atitude de respeito onde todos saem ganhando. Porque quando você se empenha em traduzir ao invés de pré-qualificar, você chega mais perto do entendimento, que é, na verdade, o objetivo da amizade. Assim, traduzir não é gesto de virtude mas antes ação prática visto que o tradutor também sai ganhando. E resguardam-se os sistemas de crenças, porque todo mundo tem um sistema de crenças, sabendo ou não, querendo ou não, é que nem nariz, e o antídoto, ou a estratégia primeira, porque depois virão outras, é não se levar tão à risca. Nem ao outro.

Por aqui encerro, ouvindo o seguinte de um dos meus anjos, o “Vai com Jeito”: respira fundo, se perdoe, de fato coisas boas não tem necessidade de tantas palavras mas às vezes excesso de zelo significa respeito e reconheça os bons ventos do encontro. Porque foi bom. E foi só o primeiro.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 27/03/2008
Reeditado em 04/11/2013
Código do texto: T918768
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