CONSUMIDORES DO MEDO

" Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza..." Este é trecho da letra de uma música que fez muito sucesso no Brasil e em quase todo o mundo. Quem a cantava era o precocemente falecido Wilson Simonal, verdadeiro "show man" da MPB (Música Popular Brasileira). Dono de um gingado (ou ginga) que contagiava todo o povo brasileiro e qualquer ser humano que tivesse sangue quente próprio de nós, latinos, o cantor foi um dos tantos que exportou para o mundo mais um dos nossos ritmos musicais. Naquela época, então, éramos felizes e não sabíamos... Passados já mais de trinta anos, olho para trás e concluo: meu adorado Brasil, "que é tropical e bonito por natureza", já não tem mais aquela alegria de antanho...

O povo, outrora feliz, hoje mais chora do que ri! Eu, assim como tantos outros conterrâneos, tenho vergonha da maioria dos nossos políticos. Aqui, no passado, o povo tinha segurança. Hoje, existe o pânico. O terror grassa nas ruas, em que, assaltantes pertencentes a várias facções criminosas, praticam atos violentos a seu bel-prazer, a tal ponto que, de tanto agirem livremente, acabaram por causar verdadeira inversão de valores, onde os honestos e trabalhadores passaram a viver enclausurados em suas próprias casas, cercados de grades por todos os lados. Hoje somos um povo aterrorizado que, ante a passividade das autoridades competentes, nada pode fazer que não rezar e deixar nossos destinos nas mãos de Deus.

Perdemos a vontade de tudo, já que não nos é possível reagir, já que nem mesmo o poder de polícia tem força... afinal, numa terra em que somente se leva em conta os "direitos humanos" dos bandidos; onde a corrupção é vista, provada e comprovada e a justiça beneficia a malandragem punindo os inocentes, o que se há de esperar? Pura e total letargia, claro! A ganância e a incompetência de alguns políticos, aliada às falcatruas de alguns outros, geram a mentira, o embuste, o engodo... O desrespeito pela nação e pelo povo chega às raias da desfaçatez. O próprio presidente prima pela ignorância e ainda se orgulha da própria falta de cultura. Usa e abusa do poder e da autoridade que julga ser suprema e onipotente. Seria cômico, não fora trágico!!! O que era para ser governo, passou a ser desgoverno.

O chefe da Nação, que deveria ter iniciativa e pulso firme, é um despreparado, desqualificado para administrar um simples sindicato de metalúrgicos, no qual julga "ter feito escola" para chegar onde chegou. Não percebe, ou não quer perceber, que foi iludindo o povo da camada social menos privilegiada com promessas não cumpridas, revestindo-se de uma humildade que não possui (ao contrário, já se comparou a Jesus!) é que "ganhou" a simpatia e, conseqüentemente, a maior parte dos votos que o elegeu e reelegeu presidente do Brasil.

Então, toda a malandragem se intensificou, desmembrou-se em outras tantas falcatruas. Diante de tanta impunidade, os bandidos se disseminaram espalhando o terror com os crimes mais hediondos. E assim é que implantaram o regime do medo. Hoje, quando saímos às ruas, não sabemos se voltaremos à casa... O caos é geral e, "de tanto vermos triunfarem as nulidades..." quase que nos embrutecemos. À época em que havia ordem no país, qualquer tragédia que assolasse uma família, por mínima que fosse, causava-nos espécie e inconformidade. Hoje, pessoas são mortas por métodos cruéis e hediondos e a reação geral é de passividade. Não há mais tragédia, não existe mais nada que nos espante ou surpreenda. Porque somos consumidores do medo, recolhidos à própria sorte.

Muitos membros do Partido dos Trabalhadores, o malfadado "PT", ora donos do poder, são os que mais pregaram a própria "lisura" e, ironicamente, são também, os que mais atos de corrupção praticaram. E este país, "abençoado por Deus" chafurdou na mais suja lama! Sinto vergonha de ver o Brasil governado por um presidente que se arvora o direito, de dizer, num português mal falado, ser incorruptível e símbolo da ética no país! Com todo o respeito que tenho pela figura representativa do chefe da Nação, não posso mentir: o presidente do Brasil, o atual presidente não passa de homem vaidoso que malgrado a incompetência, julga-se onisciente, onipotente e acima da verdade! Quando ganhou as eleições presidenciais, não subiu ao poder... o poder é que lhe subiu à cabeça. E pôs por terra toda a esperança que despertou no povo. Esperança esta, adormecida que estava pelas subseqüentes desilusões a que cada governante nos submeteu!

Lamento participar desta ciranda enfocando o medo desta forma que tanto depõe contra a nação brasileira... Mas, tenho de ser honesta. Preciso dizer o que vai no íntimo do meu coração desde já. Só assim é que poderei manter o respeito por mim mesma e conquistar a confiança de todos os que lerão este texto.

Texto originalmente elaborado para a Ciranda Consumidores do Medo,

criada por Victor Jerónimo e Mercedes Pordeus do sítio "Ecos da Poesia"

<consumidoresdomedo@ecosdapoesia.net >

Miriam Panighel Carvalho
Enviado por Miriam Panighel Carvalho em 27/03/2008
Reeditado em 27/03/2008
Código do texto: T918431