MISTERIO NA MATA
A Fazenda da Mata, ou Fazenda São João fora do meu bisavô Abílio. Vovô João comprou a pelos idos de 1953 e lá passei os mais doces anos da minha infância.
Ah quantas estripulias, quantas aventuras lá vivenciei !
Nos primeiros dez anos a fazenda era muito freqüentada ainda pelos irmãos de Vovó, o tio Juarez, Tio Neném, Tio Mário, Tio Júlio, Tio Renato e a própria Vovó Julita, Mãe Vó como a tratávamos. Os primos Nardinho, Diogo freqüentavam mais a casa. O casarão era estilo colonial, havia muitas dependências e por isso era possível receber muitos hóspedes.
Gostava quando minha avó Anita recebia umas amigas do Rio; Era um pessoal da cidade e eu ficava espiando de longe aqueles hábitos diferentes dos que eu conhecia.
Mas sentia mesmo a vontade quando nas férias reuníamos os primos lá Dalmilho, Jane, Raquel, Ariete, Denise, Antonio, entre outros. Mas estes citados eram os da minha época que mais compartilhávamos as aventuras e as brincadeiras. Minha irmã Bernadete era novinha e o Pascoal ainda muito criança nem podia acompanhar-nos em todo lugar.
Quando iam embora ficava aquela monotonia... não restava outra opção de vez em quando compartilhar algumas brincadeiras com os filhos dos camaradas.
No final da tarde chegava da roça acompanhados do pai e de outros funcionários o Carlinhos, o Toninho, e o José, (Zé) mas eram crianças de outro nível, muito simples e chegavam cansados mal podiam brincar.
Na fazenda, quando a tarde caia vovô corria para o lado do rádio, as vezes acompanhados por algum empregado e ficavam ouvindo programação de Música Sertaneja para irritação da minha avó que não gostava. Depois hora da novela no Rádio, minha avó e mamãe iam para o lado do Rádio enquanto meu avô se retirava, de vez em quando indo jogar truco lá na sala com os amigos.
Mal a noite se firmava todos começavam a retirar-se. Dormíamos cedo, pois a lida no campo iniciava-se cedo antes do nascer do sol.
A vida lá na fazenda foi modificando se radicalmente, o movimento, a lida com o cafezal, foi cada vez mais diminuindo. Meu pai levou-nos para um Sítio que herdara lá no Porto dos Mendes, no Morro Grande, meu tio Toalba estudava fora, só vinha para a fazenda nas férias. Eu, sempre que podia ia passar uns dias lá e o meu quarto preferido era o do meu tio Toalba, pois ele dava as janelas todas para a frente e para o Curral, podia-se acordar cedo com a movimentação dos retireiros ao trazer as vacas para a ordenha.
Certa noite, estávamos só nós três, meus avós e eu. Como não havia companhia me recolhi cedo, ouvia cada badalada do velho carrilhão lá na sala próximo ao meu quarto. Fora isso e algumas vezes o som de algum pássaro noturno era silêncio total.
Podia-se ver as estrelas pela janela que eu sempre deixava aberta para contrariedade de vovó que ia nas pontas do pé e as fechava e eu da mesma forma as abria depois de algum tempo sem fazer ruído.
Era uma noite tranqüila, meus avós deviam estar em sono pesado e eu ainda estava meio acordado pensando e olhando para as estrelas lá no firmamento.
De repente - ouvi a trava de madeira ser retira da porta da sala e ser colocada no canto. Como era piso de assoalho, e com o silêncio da noite ouvia se nitidamente o som. Levantei a cabeça, sem sair de minha cama, procurei ver se era meu avô ou minha avó que fora ver algo. Não podia evitar nada a não ser a porta acabando se abrir por total uma das partes.
Um silêncio profundo se fez até que ouvi a minha avó lá de seu quarto falar:
- menino! O que está fazendo ai ? Por que abriu a porta!?
Eu mal pude responder... balbuciando disse lá da minha cama mesmo;
- não fui eu, não sai da minha cama! E virei-me do lado e fiquei quieto sem se mexer até que o sono veio!
Lembro que meu avô se levantou, fechou a porta, colocou aquela trave de madeira e saiu resmungando.
Creio que pensara que fora eu fazendo arte.
Pude ouvi-lo a caminho de seu quarto;
_ Ara.. esse menino !...
No dia seguinte, levantei-me, meu avô já havia ido para a roça e encontrei minha vó lá diante do fogão a lenha!
Antes mesmo que ela disse algo perguntei-lhe:
- Vó, o que foi aquilo ontem?
- Não fui eu que abri a porta não!
Calmamente ela respondeu acalmando-me.
- Não se preocupe menino, deve ter sido papai, ele sempre aparece por aqui.
- No final de semana eu vou fazer uma visita lá no "Centro" e ver o que ele queria. ode estar precisando de oração.
E assim passou a semana e quando chegamos a cidade foi ela ao centro e contou-me depois que realmente era o Vô Abílio, ele sente saudades e vem sempre visitar a casa.
Mas está tudo bem sim com ele! - disse com toda a naturalidade. Acho que por isso nunca me assustei com fatos inexplicáveis. Aceito-os e acredito que: - " entre o céu e a terra há muito mais coisa que nossa vâ filosofia possa conhecer! "
Obs.: Vô Abílio faleceu no dois anos do m nascimento, eu não cheguei a conhecê-lo. Um porta retrato que vovó possui dele me chamava os seus olhos azuis, bem azuis.