Palavreados

Há muitas pessoas que resistem à tendência de absorverem modismos de linguagem com facilidade. Os vetores ou agentes de persuasão vão desde a escola (os colegas), passando pela caserna até empresas e, paralelamente ou não, os convívios sociais. O fato é que elas mostram-se mais “vulneráveis” a essa influencia e passam rapidamente a incorporarem os jargões e expressões próprias desses ambientes em que convivem. De positivo, pode-se dizer que elas rapidamente se integram ao meio ou que absorvem rápido o que há de novo. O fato é que esses calões além de nem sempre serem sequer de razoável gosto, acabam por “ferir” os ouvidos de quem não se entrega tão facilmente às tais seduções. Como dizia minha mãe, (olha eu aí usando um adágio popular) “o costume de casa vai à praça”, isto é, acaba-se por usar as expressões no núcleo social “errado” e não ser entendido pelos interlocutores da ocasião. Mas essa é a conseqüência menos nefasta já que, não sendo do ambiente, a pessoa logo retorna ao seu. O pior é viver dentro de um ambiente em que sejamos obrigados a ouvir os ditos dialetos. Convívios sérios que adotam informalmente o hábito de usá-los formalmente, como as empresas, por exemplo. São expressões em inglês, abuso de verbos auxiliares e gerúndio quando poderia ser simplesmente no tempo futuro: “estarei mandando o malote amanhã cedo”, quando poderia ser: “mandarei o malote amanhã cedo”. Ou então o abuso no uso do “já” como forma de demonstrar agilidade na providência. Em alguns casos passa-se o dia ouvindo um verdadeiro desfile repetitivo de vícios dessa ordem. Nos ambientes informais as influências são as mais diversas, mas se tem o benefício da opção de não dar atenção ou simplesmente mudar de local ou de interlocutor. Sempre convivemos com gírias, algumas até engraçadas e que passaram a fazer parte do vocabulário. Isto dá vivacidade à língua, entretanto, é preciso haver um carisma da expressão de modo que ela seja agradável ao ouvir-se e se encaixe no significado a que se refere ainda melhor do que a expressão formal a quem substitui.

Nos setores mais respeitados da sociedade que possuem seu dialeto, há uma tolerância que me parece mais conservadorismo caipira do que necessidade propriamente dita, mas cujo uso é explicado para distinguir sem dúvidas as especificidades do segmento. Isso ocorre mais conhecidamente nos “redutos” jurídicos (linguagem jurídica), de economia (o “economês”), de medicina (para desespero dos “pacientes”) etc.

Na verdade, como considerei acima, há enriquecimento da língua, desde que não agrida nem inviabilize a comunicação, razão pela qual as palavras e expressões foram criadas.