Sábado. Acordei sentido-me só. Tomei um banho e liguei a TV, enquanto preparava um café. Assisti ao Artur da Távola no programa da TV Senado chamado “Quem tem medo da Música Clássica?” Hoje o tema era sobre a linda e surpreendente A Sagração da Primavera de Stravinski. Uma frase dita pelo Stravinski para justificar a sua música, e repetida pelo Artur da Távola, fixou-se em minha mente:
- A música tem de ser libertada, não precisa ser bela!
Pensei muito sobre isso.
Agora ouço Debussy, Images pour Orchestre executada pela Orquestra Sinfônica de Boston, e dirigida por Michael Tilson Thomas. Linda execução. Ultimamente meu gosto tem recaído sobre a música contemporânea. Gosto de Stravinski, Debussy, Schomberg, etc. A música de hoje parece impositiva, como se fosse um organismo vivo a alimentar-se das agonias do homem. Para isso vai à busca do seu alimento em nosso subconsciente. Isso às vezes choca contudo, agrada-me, excita-me, parece sacudir meus neurônios. Às vezes penso que ela, a música, se preocupa em quebrar impiedosamente os preconceitos estéticos do homem para firmar-se como um organismo vivo em sua luta pela perpetuação da espécie. Perplexo concluo, por hora, que a música é, de fato, um ser vivo que sobrevive e apresenta-se como tal no consciente e subconsciente do homem.
A música contemporânea libertou-se das regras impostas pelo consciente clássico e apresenta-se hoje utilizando-se livremente dos impulsos inconscientes. Por isso, às vezes choca. Acordes e combinações de sons e ritmos, que insurgem-se do nosso mais profundo inconsciente tendo de passar pelo crivo do consciente. Choca, mas é prazeroso, parece empurrar, destroçar alguns neurônios os obrigando a reorganizarem-se, encontrarem e aceitarem novas combinações estéticas.
A música contemporânea é uma renovação da Arte e, conseqüentemente, uma representação da evolução humana.