Tenha fé. (Maria Mal-Amada)
Tenha fé.
Crônica extraída do livro Maria Mal-Amada
de Lorena de Macedo
Tenha fé querida, tenha fé. Creia na incrível possibilidade de um encontro casual. Talvez no mercadinho da esquina, ou quem sabe durante o ataque de nervos na fila do banco. Tenha fé na beleza dos acontecimentos despropositais, nas comédias românticas, nas músicas sertanejas que muitos não admitem ouvir... Acredite em fadas, duendes escondendo suas coisas pela casa, no cheiro de rosas que precede a presença de um espírito amigo.
Vez por outra me deparo com o estúpido vazio de quem gosta de cutucar e ser cutucada, mas não tem ninguém para revidar um cutucão. Detesto cutucar o ar. Entretanto, o vento que entra pela janela, preenchendo o ambiente com uma presença quase humana me conforta e não me deixa desistir.
Minha cara amiga, não se desespere! Eu acredito em você! Tenho fé nessa postura independente e corajosa que lhe reveste a alma frágil. Creio cegamente na sua capacidade de auto-avaliação e, conseqüentemente, reavaliação de suas prioridades. Sei que estou lhe fazendo rir com esse discursinho estilo auto-ajuda, mas pouco me importa essa expressão debochada desde que combinemos uma coisa: Tenha fé.
Fé no sexo oposto como algo que valha a pena, apesar de todas as contra-indicações da bula. Fé na patética reação que todas nós eventualmente temos quando caímos de joelhos no chão da sala vazia com o peito apertado, o vestido amassado, a cabeça rodando e o grito abafado de quem só queria se declarar sem parecer fácil demais, disponível demais...
Não posso lhe garantir sucesso. Se pudesse prever o final da história certamente não me valeria desse sobrenome ridículo. É como diz a lenda: Na outra ponta do arco-íris encontra-se um pote de ouro. Mas a questão é: Alguém achou? Hein?
É por isso que eu lhe digo que tudo é uma questão de fé. Simplesmente uma questão de lendas, profecias e processas de êxito. Uma casa com cerca branca, problemas resolvidos num estalar de dedos e o relógio biológico batendo em seu devido compasso. Nada de pressa. Nenhuma mancha de bolor pelas paredes da casa.
Sempre que vejo um arco-íris eu penso no pote. É inevitável. Não consigo parar de pensar no pote. Creio na existência do pote como algo metafórico que representa o par perfeito.
Espere! Esqueça o que eu disse! Não tenho licença para usar essa expressão. Fui proibida pelo médico, para o bem do meu sistema nervoso. Nada de par perfeito para mim dessa vez. Frases otimistas e atitudes positivas é tudo o que preciso, é tudo o que precisamos...
Que se dane o medo. Que se dane o seu passado problemático, estático, sistemático... Não é preciso traçar um plano absurdo. Apenas creia. Creia na crença. Creia na tentativa.
O Maluco nos disse para tentamos outra vez. O Maluco sabia das coisas...