O DILEMA DE LULA - QUEM O SUBSTITUIRÁ?

Nada que ocorra no Brasil no nível de política e eleições irá me fazer ficar admirado; nesta terra em que qualquer um se candidata a um cargo público e ganha, inclusive analfabetos, estelionatários e homicidas, tudo pode ocorrer até o dia das eleições. Em 2008 o Brasil viverá a final do quadriênio dos mandatos de prefeito e vereador e já começamos a enxergar os horizontes das próximas eleições, as de 2010, quando Luis Inácio Lula da Silva transferirá a faixa presidencial ao próximo mandatário da nação.

Mas antes de 2010, muito embora haja muita água para rolar por baixo desta ponte, é agora que são iniciados os preliminares das especulações para sabermos quem será candidato a candidato a Presidente. Somente depois que os 5.563 prefeitos tomarem posse é que de fato é dada a largada para a sucessão presidencial; os prefeitos novos e velhos se articularão; deputados farão acordos; partidos brigarão por mais filiados e muitos nomes surgirão no cenário político, com cara de bonzinhos e beijando gente pobre nas favelas, prometendo tudo que puder, para ocupar o andar mais alto do Palácio do Planalto.

Minas Gerais com certeza estará no olho do furacão das eleições de 2010, se nada mudar. Da terra do pão de queijo o Brasil poderá ver o fiel de todas as balanças, tanto do PSDB, partido do Governador Aécio Neves, quanto do PT de Lula.

O partido do Presidente está desgastado, cheio de denúncias de fraudes, roubos e evasão de divisas; não há nomes fortes capazes de bater um nome razoável de qualquer outro partido, mas Lula ainda alimenta uma esperança do PT ter nome próprio para a disputa.

Alguns metidos a sábio dizem que Ciro Gomes, que anda meio sumido de cena, será o candidato de consenso entre o bloco de apoio (sem o PMDB é claro) do Governo e o Partido dos Trabalhadores, mas nomes como Tasso Genro, da Pasta da Justiça e Nelson Jobim, da Defesa, começam a ganhar os focos dos holofotes nestas últimas semanas, mas são meras especulações da mídia.

Já do outro lado da moeda do poder, os Tucanos continuam com as mesmas cartas do jogo antigo; Fernando Henrique Cardoso como cacique, Tarso Jereissati como Pajé e José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, como os curumins que adorariam entrar na taba, fumar o cachimbo da paz e sair no terreiro para dançarem a “dança da chuva”. São nomes fortes que merecem muita atenção, sobretudo por que entre eles existe um Ex-presidente, um Ex-governador e dois Governadores de Estados importantes, sendo que Aécio ainda conta com a estampa de ser neto de Tancredo.

Eu afirmo que a situação tucana é deveras confortável para este pleito próximo, até este momento; os homens de FHC podem fazer um barulho interminável, sobretudo se tiverem o apoio dos Democratas, Ex-PFL, mas outra circunstância poderá atrapalhar os planos do PSDB ainda este ano. Em Belo Horizonte, a prefeitura é comandada por um dos nomes mais fortes e íntegros do PT, Fernando Pimentel, que está em seu segundo mandato e suscita a idéia de se candidatar a Governador, pelo menos é o que as “bocas nervosas” andam proferindo. Pimentel é tão forte, que já despertou alguns amores entre os tucanos e os petistas de Minas, caso raro no Brasil e Aécio, que já se viu de fora de algumas decisões importantes de seu partido, começa a costurar uma colcha de retalhos para quem sabe, agregar alianças futuras.

Se Lula convencer Aécio Neves a ser o candidato do PT e Pimentel a Governador de Minas, eu acho que vai dar “rebú no galinheiro”. As faíscas desta batalha podem chamuscar muita gente que está quieta e que terá que abrir a boca em breve; ou seja, Minas Gerais poderá mais uma vez decidir quem vai comandar o Brasil e Lula poderá enfim ter o seu nome forte de sucessão.

O mandato de Lula não chegou a ser um desastre por que ele nasceu com glúteo virado pra lua. Enfrentou momentos críticos com o nervosismo chegando a tomar conta do Planalto, Câmara, Senado e STF. Os conflitos diplomáticos com Venezuela e Bolívia também abalaram os pilares da nossa democracia jovem; o mensalão e o fim da CPMF até que prometerem mandar Lula de volta para a metalurgia em São Bernardo, mas o crescimento indiscutível da economia e a melhoria iminente da condição social dos mais pobres (maioria absoluta do país) ajudaram o barbudo à não só se manter no poder, como também ajudá-lo no processo eleitoral futuro.

O país pode estar um lixo, e eu concordo, para a classe média e alta, mas a miséria recuou consideravelmente, isso ninguém pode negar. Muito embora eu acredite que os mandatos de Lula, sejam meras continuidades fieis dos de FHC, é ele quem está agora com a faixa listada de verde e amarelo; é Lula quem está desfrutando destes louros de agora e isso é importantíssimo para as próximas eleições.

É inegável que o Presidente seja um “cara” de boas intenções, até mesmo por que é impossível que ele tenha esquecido da fome que passou no Nordeste quando criança; é inegável que Lula tenha se empenhado com idéias fortes para erradicar muitos males que deixam esta terra ainda mais feia e triste, mas também nem mesmo o mais apaixonado petista pode negar que os homens de confiança do Presidente quase mancharam sua biografia e quase o levaram ao óbito político. Quando o metalúrgico se elegeu pela primeira vez Presidente eu cheguei a compará-lo ao Lech Valessa, o outro metalúrgico polonês que chegou a presidência de lá e não teve grandes feitos.

Luis Inácio Lula da Silva pode até não imaginar, mas sua biografia só estará completa após a sua eleição, pois se ele conseguir eleger o sucessor, seja quem for, estará apagando de vez todas as nódoas que o seu partido o enfiou goela abaixo.

Aécio Neves é um galardão mineiro que será disputado, tanto pela sua própria história de centrista democrático, quanto pelos aristocratas modernos do partido que um dia foi aspiração de metalúrgicos. O Poder que está sendo discutido é algo surpreendentemente cobiçado por quem se mantém nele há anos e por quem pretende fazer a sua história dentro dele por mais alguns anos intermináveis e os nomes de acesso a esta faculdade é o instrumento quase que fundamental para adquiri-lo; Aécio, Ciro, Geraldo, Serra, Tasso ou Jobim, pode ser que deste conjunto estejamos lendo o nome do próximo mandatário do Brasil, mas surpresas são o que mais acontecem neste país.

Como eu não tenho bola de cristal nem costumo profetizar em se falando de política brasileira, resta-me torcer para estar vivo e lúcido, para ver quem serão os candidatos à presidência do Brasil e torcer ainda para que este mantenha a mesma política de desenvolvimento começada por um grande político e continuada por um grande líder de movimentos populares.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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