Ilha da Fantasia
Eu costumo comparar os sites de relacionamento da Internet à " Ilha da Fantasia", um lugar onde cada um chega, veste sua máscara, adota uma personalidade e vive a sua fantasia. Um lugar onde é possível ser o que se sonha, o que se idealiza. Todas as mulheres são lindas, mesmo que para isso tenham que usar fotos falsas, antigas, retocadas. Todos os homens são grandes conquistadores, sedutores. Todos estão permanentemente de " bem com a vida". Todos são " grandes amigos", quando na maioria das vezes nem se conhecem, são estranhos, escondidos atrás de uma tela, vivendo personagens.
E vivem com uma intensidade assustadora, brigam, choram, perdem o sono, por conta de opiniões ou palavras ditas por gente desconhecida, que também estão ali representando papéis. Se apaixonam, odeiam, brigam, discutem, fazem as pazes, se envolvem de forma a sentir que seu ego verdadeiro se incorporou ao personagem criado. A vidinha sem graça do dia-a-dia é substituído pelo turbilhão de emoções falsas vivido na rede.
Todo homem arrasta um séquito de fãs, também personagens, mas que alimentam seu ego de forma totalmente irreal e não resistem `a meia hora de convivência real. Toda mulher, da mesma forma, escapa da realidade vivendo amores fantasiosos, sonhando com o dia em que o irreal se transforme em presença.
Ninguém pensa na possibilidade do " grande sedutor" que mexe profundamente com a sua emoção, possa estar na realidade de pijamão e chinelos, sujando o teclado com migalhas de um sanduiche mastigado com a boca aberta, enquanto tecla suaves palavras de amor. Ninguém pensa na possibilidade daquela mulher, tão maravilhosa e inatingível na foto, estar usando bobies e com o rosto todo lambuzado de creme, enquanto enaltece o ego do parceiro no MSN.
Mas....e a realidade? Onde fica a realidade? Onde fica a necessidade de ganhar o "pão nosso de cada dia"? Onde fica a necessidade do afeto real, do abraço que realmente conforta porque aninha e protege, porque transmite de verdade o calor do corpo do outro? Onde fica o " arroz com feijão", que realmente sustenta?
Não sou contra o mundo virtual, mas sou contra a fuga da realidade, sou contra a alienação excessiva. Uma escapadinha até a Ilha da Fantasia é saudável, mas é preciso muito cuidado para não se perder na frágil linha que separa a ficção da realidade.
Confesso que cansei, confesso que não me importo com opiniões de gente que não conheço, confesso que quero olho no olho, confesso que quero viver a vida como ela é.