eStas Terezinhas
eStas Terezinhas
Há alguns anos, fui intimado a dar esclarecimentos numa Delegacia da Mulher. O motivo, segundo a Delegada era constatar a veracidade ou não, da queixa de uma cliente, que era frequentemente espancada pelo esposo.
Este por sua vez fingia ser um “Sem Terra”, onde seu real intento era viver com uma “assentada” jovem, deixando a esposa à frente dos negócios da família, voltando em casa ocasionalmente, em busca de “sua parte”, posto que não trabalhava a terra, mas se satisfazia sobre ela.
Após o depoimento, fiquei amigo da Delegada e lhe indaguei como andavam as queixas e punições aos maridos infratores. Ela contou-me que era obrigada a investigar e que muitas vezes a mulher, por medo de represálias do agressor, acabava retirando a queixa, em meio a um trabalho exaustivo, de abertura do processo.
Depois de muitos casos relatados por ambos, ela fez um desabafo, que eu já conhecia e achava que poderia “ensinar Padre Nosso ao Vigário...".
Contou-me que, apesar de ser obrigada a averiguar muitos casos e até conseguir a punição do marido, ela sabia, por experiência, que quem merecia a punição eram as “Terezinhas”, como as chamava.
Sua crença era baseada no depoimento do “agente agressor”, que confessava ter “esquentado a cara da mulher, sim, mas que ela enchera-lhe tanto o saco, que fizera por merecer a tunda”. Ela jamais concordava com a agressão, mas confessava, “que certas mulheres fazem isto, para conseguir o papel de vítimas, heroínas diante da sociedade e dos filhos”.
Conheço uma “pá delas”: vozes meigas, quase em sussurro, vestidas com comportamento, cabelos impecáveis, discretas, se lhes “dou corda”, desfiam um rosário de queixas, para depois soltarem o famoso: “Mas eu não deixo barato, “solto os cachorros”, infernizo a vida dele, reclamo tanto, que ele se tranca no futebol, ou vai para o bar, fumar seus intragáveis cigarros, onde conta suas lorotas”.
Os filhos não o suportam, de tanto que a imagem dele é denegrida, em contraponto à imagem da santa, que reflete.
Verdadeiras “mártires”, que se imolam, dia após dia, até que o marido resolve ter um câncer, uma cirrose, ou um enfisema.
Quando ele resolve “pular a cerca”, de tão manobrado já está, acaba “dando bandeira” e sua ficha fica mais suja, que se estivesse no Dói-Codi, na época da Ditadura!
Execrado, indicado ao Oscar do Inferno, o coitado só tem que desaparecer: ou morre ou é “morrido” de alguma destas doenças fatais!
Quando, a conselho de um padre, pastor, ou advogado, o casal é indicado ao consultório de um psiquiatra, os dois entram, disparam a trocar acusações por minutos incansáveis, até que o psiquiatra, pedindo gentilmente um tempo, começa dizendo: “Boa tarde! Meu nome é Tal e eu só desejo intervir por um instante, fazendo uma perguntinha banal. Depois de tantos anos repetindo estas frases, vocês crêem que estão conseguindo algo?”
O mundo desaba. Os ombros arriam, a voz embarga. A gagueira surge e para se defenderem, recomeçam a se agredir com culpas mútuas.
Há alguns meses atrás, vi uma famosa artista de TV, a quem nem apreciava tanto, dizendo ao entrevistador, uma verdade insofismável, que já sabíamos de cor: “Muitas mulheres flagelam os esposos, porque são frias, despreparadas para a vida, por colocarem sua felicidade nas mãos dos companheiros, por crerem em contos de fadas e principalmente, para não passarem fome”.
Eu acrescento algo, que as mulheres em geral, não aceitam: _ O mundo é machista!
Pais e Mães criam seus filhos para serem homens rudes, de pênis ereto, que mandem em casa, façam os filhos respeitarem sua autoridade na força e a não se curvarem diante de uma mulher, “que se bobearem, vão montar-lhes de surfetes”.
Tornam suas filhas frágeis, submissas, sonhadoras com um palácio branco, com janelas azuis, de cortinas vermelhas, onde se põem à tarde à espera do “prínspe” encantado, que surgirá num corcel branco ( e olha, que nem fabricam-se mais!), que as fará felizes e “embuchadas” para sempre e que além disto, lhes caberá serem tratadoras dos pais quando ficarem velhos, pois os filhos, à sua vez, irão cuidar dos pais da moça “surfeteira”, “usurpadora”, meio Bety Davis, a vilã dos filmes de meus tempos de rapaz.
Estas filhas, tendo aprendido a lição, farão sua parte na “deseducação” e ouvirão as filhas dizerem: “Vaza, que isto não tá com nada!”
Homem do nosso tempo é capacho, e caia na asneira de “regar o vaso”: “ta frito!”. As mães fazem, os bonitinhos crerem que são os mais, mais e a farra está feita. Haja psi, haja sexólogo e haja advogado a 30%.
E como é que fica a farra?
Criação igual é a solução! Ensinar aos dois sexos as mesmas coisas; a respeitarem os direitos e deveres, a ter limites, desencorajar o sexo “como moderna ação!”; ensinar que o amor é doloroso, requer água, requer adubo, requer gentileza. Que estes requisitos não fazem o homem virar mulher e nem a mulher se tornar frágil.
As psicologias são complementares; nunca ensinar que são diferentes. O sexo é prazeroso, o orgasmo é bom, principalmente se ocorre após o brinquedo amoroso. Muitas vezes nem é necessário buscar o orgasmo. Ele pode surgir de noite, enquanto se dorme abraçadinho com amor.
As crianças precisam ver os pais cochichando palavrinhas gostosas; têm que sentir que os pais se tocam; querem-se; que os olham com alegria, pois foram feitos com amor.
E pensando melhor, nesta vida de gado marcado, em que se vive o principal movimento em direção a uma reforma profunda, surge um raciocínio banal: Chega de culpas ou acusações! Comecem a enxergar a saída dizendo: “Eu não sei acertar, porque tenho medo de errar!”
CÁSPITE!
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Marcio Funghi de Salles Barbosa
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