PEQUENOS DEFEITOS E MAIORES VIRTUDES DE UMA MULHER .

 

    Pelo menos uma vez por semana eu e alguns colegas de trabalho nos encontramos no barzinho da esquina depois do expediente. Lá acompanhando um chope geladinho somos servidos pelos já famosos bolinhos de bacalhau regados generosamente com um azeite português legítimo.

   Nessas ocasiões colocamos nossas mentiras em dia, fazemos apostas absurdas (raramente sai uma fofoca, até por quê homem não gosta) , ao final rachamos as despesas e por volta de dez horas todo mundo vai direto pra casa dormir. Sabendo onde e com quem estamos nossas esposas não reclamam.

   Este barzinho tem sido fonte de inspiração para algumas passagens e situações que já transformei em crônicas e portanto , noite passada, o assunto mais comentado foi sobre os defeitos das mulheres. Que minhas amigas me perdoem mas fui o único que deu mais importância às virtudes femininas, mas não pude evitar de comentar sobre um ou outro defeitozinho (são raríssimos) que com enorme dificuldade encontramos nas mulheres.

   A maior reclamação que ouvi foi a de que elas não sabem fechar a porta de nenhum carro, nem do delas, dos nossos e nem os dos amigos.

   O interessante é que algumas até dirigem muito bem mas para fechar a porta, realmente são um desastre. Nas oficinas é comum os mecânicos comentarem que sempre os maiores problemas surgem na porta do lado do carona.

   A gargalhada foi geral e , tendo sido servido mais uma rodada de chopes e uma travessa de bolinhos, comentamos sobre outro defeito patético das mulheres. Ficar na frente da TV quando estamos assistindo ao nosso futebol.

   Isso quando não começam a reclamar ou tagarelar sobre vários assuntos ao mesmo tempo, distraindo completamente nossa atenção. Um dos colegas levantou-se e propôs um brinde ao mês de fevereiro, que sendo o menor do ano é o mês em que as mulheres falam menos.

    Nova trovoada de gargalhadas , outra rodada de chopes , mais bolinhos e outro colega sugeriu que os supermercados proibissem a entrada dos homens, que no máximo só poderiam ficar esperando no estacionamento (ou no bar em frente).

   Alguém perguntou o motivo e nosso amigo prontamente esclareceu que as mulheres dirigem tão mal , mas tão mal (ele estava se referindo aos carrinhos de compras) que pelo menos daquele congestionamento e das habituais e tradicionais trombadas os homens ficariam livres. Gargalhadas, outra rodada de chopes e mais bolinhos.

   Quando chegou minha vez, a contra-gosto (é claro que foi a contra-gosto, pois como autor da crônica somente eu receberia a saraivada de críticas femininas), disse que o único defeito da minha mulher era acender a luz do quarto quando eu já estou deitado e isso, quando também não esbarrava em alguma coisa, fazendo um enorme barulho.

   Já um outro colega, entre risos, destacou que as mulheres têm a mania de esquecer tudo : chave de casa, recados, carteira de dinheiro, lista de compras do supermercado e tantas outras coisas que não daria tempo de citar naquela hora. Mais outra rodada de chopes, bolinhos de bacalhau com muito azeite português e muito mais gargalhadas.

   De repente, como se a consciência estivesse pesando, todos ficaram calados e olhando para os respectivos copos de chope. O silêncio estava incomodando e então alguém (não me lembro qual deles), com todo cuidado comentou que mesmo com aqueles defeitos ele gostava muito da mulher e naquele momento (jurando que estava sóbrio), disse a todos nós com a voz embargada que não conseguiria viver sem ela.

   O primeiro que tinha apontado os defeitos (por coincidência o que achava mais graça em tudo) balançou a cabeça e num tom de absoluta humildade (só eu percebi uma pontinha de cinismo), confessou que concordava com o amigo, afirmando com toda firmeza que também jamais conseguiria viver sem sua mulher.

   Percebendo que a conversa estava tomando um tom de velório sugeri que , ao invés de críticas apontando meros defeitinhos, relacionássemos as principais virtudes das nossas mulheres. Todos de acordo, nova rodada de chopes e outra de bolinhos (não houve mais nenhuma gargalhada).

   À partir daí surgiu de tudo. Não sei se por efeito dos chopes ou se realmente havia sinceridade. A verdade é que foram elogiadas a dedicação com que as mulheres cuidavam da casa e dos filhos, o tempero maravilhoso, a forma carinhosa com que cuidavam das nossas roupas, o carinho com que somos recebidos quando chegamos em nossas casas (aqui, houve alguma controvérsia), além da paciência e tolerância com que nos aturam. Todas, sem exceção e sob intensos e demorados aplausos foram homenageadas e eleitas as esposas do ano, com direito a flores e caixas de bombons ( que ainda seriam compradas naquela noite).

     Surpreendente e impressionante o que não se consegue com chope e bolinhos de bacalhau .....
 

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 21/03/2008
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T911191
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