O Arco dos Teles é mágico. Um corredor de ruas estreitas ladeadas por casas de danças, bares e restaurantes, quase tudo preservado ainda no estilo do tempo do império. Foi ali que no início do século passado houve a Revolta da Vacina. Dizem que Carmem Miranda morou em um desses sobrados. O charme é sentar às mesas postas no meio da rua. As pessoas nesse ambiente se despojam dos afazeres, e se entregam ao relaxamento sugerido por esse ambiente

Isaque, grande amigo, irmãozão. A saudade sempre aperta no peito quando lembro dele. O conheci em Macaé/RJ. Moisé apresentou-lhe a mim. Isaque se casou com Marina, linda e delicada menina. Convidaram-me para tocar em seu casamento. Fomos, eu e Moisés, para Belo Horizonte em um belo sábado pela manhã. Lindo casamento.

Pois bem, Moisés me ligou dizendo que o Isaque estaria hoje aqui no Rio. Saí do trabalho às 18:45 e corri para encontrá-los no Arco dos Teles, como combinado.

Lugar sedutor com muita gente e mulheres bonitas. Parece exalar um aroma carioca pelo ar. Dá aquela sensação de alegria por participar pisando, andando em lugar tão instigante do Rio de Janeiro. Quando lá cheguei eles já haviam chegado há mais de quarenta minutos.

Sentei-me e logo percebi a dupla ao lado. Uma donzela aparentando uns dezenove anos. Usava uma saia rebaixada com a barriga à mostra, aliás como é o costume hoje em dia na cidade. Cabelos soltos, rosto lindo e delicado. Segurava um cigarro nos dedos da mão direita. Sentava displicentemente com os pés apoiados nos reforços da cadeira. A saia estava jogada sobre as coxas grossas, que balançava continuamente. Os joelhos abrindo e fechando fazia com que a saia fugisse insistentemente para cima deixando à mostra um par de coxas morenas claras, lisas e torneadas. O corpo estava meio estirado para a frente sobre o copo de cerveja, que ainda estava pela metade. Tragava o cigarro e expulsava a fumaça para o lado da bela boca com uma ligeira virada de rosto sem, contudo, perder de vista a sua amiga sentada à frente. Os jatos de fumaça eram embranquecidos e iluminados pela lâmpada de um poste preservado há séculos.

Eu e os amigos contagiados com essa sedução displicente, estávamos quase em êxtase. Mosa, eu e Isaque estávamos relaxados e felizes. Falávamos gesticulando e rindo muito. Para sermos ouvidos mutuamente fazíamos isso quase aos berros. A donzela continuava ali à mesa ao lado esbanjando sedução e beleza, e nos ignorando solenemente. Em dado momento ela levantou-se e, acompanhada da amiga, caminhou para dentro de um bar para jogar sinuca. Este bar, com as portas em arco, ficava bem à nossa frente. Continuamos, os três, observando-as no desempenho do jogo. Um de nós, logo incentivado pelos demais, resolveu enviar flores para elas. Tivemos esse ímpeto ao avistarmos um vendedor de flores, jovem negro, alto, aparentando vinte e cinco anos de idade. Provavelmente, um morador das favelas dos morros adjacentes. Certamente um descendente de escravos.

Compramos as rosas por três reais e pedimos para o simpático vendedor as levarem até as belas moças. Ficamos aguardando e observando atentos a reação das donzelas. Nada ocorreu. Elas nem esboçaram qualquer sorriso, pequeno que fosse. Quase ao mesmo tempo avistamos uma menininha também vendendo flores. Compramos outro ramo e a enviamos com um cartão. Nada, elas não deram a mínima para nós. Depois de muito conversarmos e rirmos, fomos embora. Já era nove e meia da noite. Ainda conversamos um pouco mais antes de nos separarmos próximos ao ponto das barcas na Praça XV. Retornei feliz para à casa, mas com saudade de meus amigos. Isaque fora para a casa de Moisés, em Niterói. Saudades, muitas saudades. Momentos mágicos, estes que permanecerão em minhas lembranças.