O Theatro da minha vida

Na sexta-feira passada passei em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Era noite. O teatro estava iluminado e sedutor. Exibia um enorme cartaz, que já estava lá há algum tempo anunciando espetáculos a preços populares.

Naquele momento o meu coração pulsava ansioso por Arte. Na verdade tenho fome de consumir Arte, todo o tipo dela. Cada vez mais reconheço que deveria ter estudado História da Arte, e não Economia e Informática, como fiz. Às vezes penso que ainda há tempo para isto. Aliás, estou amadurecendo a idéia de fazer faculdade de Violino. Tenho estudado arduamente, todos os dias.

O cartaz do Theatro Municipal estava chamativo. Pensei rápido: Meus filhos, vou trazê-los aqui!.

Cheguei a casa e avisei que no próximo domingo eu levaria o Jean ao Theatro Municipal. Liguei para a tia do Jean,  que é mãe da Priscila e de duas gêmeas de 8 anos, lindas, Paloma e Paola, e a informei que gostaria de levá-las juntas com o Jean.

No domingo levantei-me às 6:30 e caminhei para apanhar o Jean, Paloma e Paola. A Paola é apaixonada por Violino. Diz ela que quer aprender este instrumento ainda na infância. Elas duas já estavam agitadas quando eu
e o Jean chegamos a sua casa. Enfiei todo mundo no carro e resolvemos que iríamos passar, também, na Ivonete, outra tia das crianças, para convidar a Dayane, sua filhinha, para ir conoso. Infelizmente a Dayane não pode ir.


Chegamos cedo e compramos quatro ingressos com direito à galeria nobre.

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é lindo por fora e por dentro. Deslubrante mesmo. As crianças quase ficaram com o pescoço duro de tanto olharem para o alto reparando os detalhes do teatro. A Paola disse: 

- Tio, aqui está cheio de mulheres peladas!

Todos rimos muito. Ela, claro, se referia aos afrescos e vitrais com os painéis do Theatro.

Entramos na nave do Theatro e sentamo-nos observando os músicos afinarem os seus instrumentos. O Theatro estava lotado. As crianças não paravam de olhar os vitriais e as obras de arte espalhadas por todos os lados.

Era onze horas em ponto quando a orquestra já estava a postos e entrou o maestro. Para a minha agradável surpresa o regente da orquestra era o grande e popular Isaac Karabtchevsky. Neste momento o meu coração disparou a mil por hora.

Vou confessar um segredo aqui, também foi a primeira vez que entrei no Theatro Municipal. Desde garoto sonhava conhecer aquele lugar. Sempre ouvia meus colegas da banda de música, a qual eu fazia parte, falarem sobre o Municipal.
Quando cresci e passava lá em frente, observava a classe rica descendo de seus elegantes carros com chofés, e, então, eu concocluía, conformado, que aquele lugar era muito chique para mim.

Ainda menino, quando eu executava o Prelúdio La Traviata de Verdi, na clarineta junto com a banda sinfônica, imaginava-me tocando em uma grande orquestra no Theatro Municipal com o corpo de balé movimentando-se de um lado para o outro do palco ao som da música de Verdi. Bem, isto ficou somente na imaginação mesmo, pois jamais entrara no Theatro Municipal.

Enfim, voltando ao espetáculo, o maestro, após a verificação da afinação feita pelo spala, dirigiu-se ao público e, de forma muito simpática, passou a explicar situações de ensaios.

O espetáculo seria iniciado, como foi, com o Hino Nacional. Isaac Karabtchevsky fez uma brincadeira com o público lançando um desafio para ver quem conseguiria cantar o Hino Nacional inteiro sem errar. Deu chance para três pessoas, mas ninguém conseguiu cantar o hino inteiro sem tropeçar. Todos rimos muito e, finalmente, ao seu comando, levantamo-nos para cantarmos o nosso lindo Hino Nacional. Este foi um momento de muita emoção.

A orquestra, após a execução do Hino Nacional, iniciou a apresentação de seu repertório e pude sentir aquele espírito da Arte passeando pelas galerias do Theatro. Todos nós estávamos em silencio absoluto e com a atenção direcionada para o palco. A Paola fez carinha de choro de emoção e todos rimos um pouco dela. Ainda bem que as crianças não notaram que eu me esforçava para disfarçar, também, a minha cara de choro, pois não resisto assistir concertos sem me emocionar. Claro que disfarço o quanto posso, mas nem sempre consigo.

Enfim, o espetáculo acabou e voltamos todos felizes para a casa. Antes tive de parar no Mc Donald para completar o passeio com as crianças.

Finalmente, visitei o Theatro Municipal do Rio de Janeiro que tanto populou os meus sonhos e ânsias musicais, desde a minha infância.