MAL QUE VEM PARA O BEM

Aos 13 anos Cotinha tinha verdadeira paixão e idolatria por Wanderley. O rapaz que já contava 20 anos trabalhava nos correios e não se dava conta do amor que despertara na garota.

Todas as tardes, a menina ia à repartição pública buscar o jornal que chegava da capital, a mando do pai. Para Cotinha essa missão era a melhor coisa que lhe acontecia, pois lhe possibilitava ver e falar com Wanderley. Conversavam amenidades e o rapaz nem imaginava que a precoce menina lhe amava, ou pensava assim.

Os dias se passavam e o amor da garota pelo rapaz aumentava. As coleguinhas do Colégio Sagrado Coração de Jesus, já sabiam do amor recluso de Cotinha e compartilhavam o segredo da amiga.

Assim que chegava ao colégio, Cotinha era cercada pelas amigas mais próximas e cada uma lhe contava uma novidade sobre o rapaz. Uma lhe dizia ter visto Wanderley na sorveteria, outra o tinha visto entrando no cinema. Cotinha ouvia tudo com satisfação e sorridente. Gostava que lhe falassem do seu amor.

Entre as colegas ela era a “dona” do rapaz e agia como tal.

Certo dia Cotinha quase desmaiou com uma notícia recebida de uma colega de classe; Wanderley tinha partido para a capital, não mais voltaria. A menina adoeceu, ficou acamada e só assim os pais ficaram sabendo do primeiro e grande amor de Cotinha.

A mãe não acreditava e dizia que o rapaz era muito mais velho do que a filha. O pai também ficou muito revoltado.

Durante muitos dias Cotinha ficou doente, abatida, permaneceu assim por muito tempo. Para ela a vida não tinha mais sentido. As amigas lhe visitavam, mas não conseguia tirar a menina de casa.

O tempo passou e como sempre colocou as coisas no lugar. Cotinha superou o trágico acontecimento e voltou a vida normal. Wanderley tornou-se assunto proibido. Nunca mais se falou nesse nome.

A menina virou moça e tornou-se normalista, o passado amainou-se.

No final do ano, iria acontecer à festa de formatura de Cotinha, a alegria reinava entres as formandas, todas ocupadíssimas com os vestidos, penteados e demais preparativos.

Na manhã seguinte, dia da festa, Edite colega de Cotinha chegou cedo na casa da amiga, estavam todos sentados à mesa tomando café e ante a chegada súbita da moça, calaram-se, esperando que ela falasse alguma coisa.

A amiga disse que Wanderley estava na cidade, hospedado no Hotel Palácio.

Todos olharam para Cotinha que estava pálida. A mãe colocou as duas mãos no rosto e murmurou:

- Meu Deus! Vai começar tudo de novo.

O pai de cara fechada olhou para Cotinha e disse com austeridade:

- Venha comigo, minha filha. Vamos falar com esse rapaz.

Instantes depois, pai e filha estavam diante da porta do quarto de Wanderley. Após baterem a porta se abriu. Surgiu um homem muito magro, usando óculos de lentes grossas, prepoderante barriga, calvo, tossindo muito, que os olhou interrogativamente.

Cotinha de olhos estatelados ficou estática. O pai perguntou:

- Você é o Wanderley? Ante a resposta afirmativa, Cotinha antecipou-se:

- Deixa pai, vamos, vamos embora. Meu Deus! Veja do que escapei...

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 21/03/2008
Reeditado em 22/03/2008
Código do texto: T910898
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