VIA CRUCIS
Sexta feira Santa tem um significado especial para todos os cristãos. Para muitos é tempo de penitência ou reflexão, para alguns mais privilegiados é feriadão, oportunidade de viajar, relaxar e gozar. Para o comércio e turismo é aumento nos lucros. E para os donos do “poder”? Aqueles que não conhecem a “via crucis” diária para chegar ao local de trabalho; isso sem contar quando esse sacrifício é aumentado pela necessidade de levar e buscar crianças numa creche ou escola. Aqueles que não conhecem o Calvário de quem depende dos serviços de Saúde Pública. Aliás nem sabem que Calvário é o nome de um monte que em aramaico chama-se Gólgota, mesmo porque a maioria desses indivíduos não são versados em história, religião, ética, moral e, sequer na língua pátria. A via crucis desses que se dizem representantes do povo se resume a comparecer no local de trabalho três ou quatro dias por semana e, em poucas horas, legislar, governar ou julgar em causa própria. Quanto ao sacrifício do transporte eles não reclamam de nada: por terra, mar e ar desfrutam de veículos exclusivos, de última geração, a qualquer hora do dia e da noite, durante sete dias por semana, tudo custeado pelo contribuinte compulsório, o mesmo que enfrenta a humilhação de ser um trabalhador honesto e, vergonhosamente, remunerado com salários ridículos, se comparados aos dos “poderosos” que além da remuneração injustificada recebem verbas aviltantes para a dignidade da cidadania nacional. O que significa esta data para os donos do poder?
Eu, otimista por excelência, espero que esta Sexta feira Santa, signifique para todos (inclusive para aqueles que se julgam donos do poder) a oportunidade de rever nossos valores, refletir sobre nossas responsabilidades e nos prepararmos para a ressurreição do mundo que idealizamos, não só para nós, mas para as gerações futuras. É tempo de separarmos o joio do trigo e tomarmos atitudes que não nos envergonhem e nem nos lancem ao inferno das conseqüências de nossa própria iniquidade ou omissão. Que neste dia, junto com a ressurreição do Cristo, renasça em nós o respeito à vida, ao amor próprio e, principalmente o amor ao próximo, sem o qual nossa existência torna-se inócua.
SP. 21/03/08
Fernando Alberto Salinas Couto