EXTRA-ORDINÁRIO

É isso aí... Sexta-feira, você trabalha feito uma louca – porque se Murphy disse que se alguma coisa pode dar zebra, dá, eu completo: especialmente às sextas-feiras..., Mas é assim que é e você se acostuma... Tem aquelas pessoas com quem você precisa falar e não consegue, tem os clientes que furam, os que caem da lâmpada com pepinos urgentes... E você NUNCA consegue ir embora mais cedo como planejou...

Não dá outra: horário do rush e você lá, no meio daquele trânsito monstruoso, sabendo, de antemão, que o trajeto que usualmente você faz em quarenta minutos, vai levar uns duzentos (ou mais)... Isto é, levaria, porque em nome de umas horinhas a mais de sono pela manhã seguinte, você – agora – ainda vai passar no mercado...

Ora, como dinheiro não dá em árvore, você vai – é lógico – naquele da musiquinha que é “mais barato, mais barato...”, e então constata que ele é mais barato mesmo, não porque seus preços dos produtos sejam mais baratos, mas porque só tem os produtos mais baratos... Tudo marca G – de Genérico, tem sabão em pó genérico, gelatina genérica, até absorvente íntimo genérico... (e eu lembro do Serra...)... Não tem como não lembrar, principalmente quando você chega em casa e constata que a embalagem do seu filtro de café é exatamente igual à da ração do seu cachorro, que é igual à da sua batatinha frita, que, por sua vez, é exatamente igual à do seu papel-higiênico, e pensa que talvez seja o caso de colocar etiquetas...

É realmente “extra” -ordinário!

Quase tão extraordinário (ou ordinário?) quanto você chegar em casa, no condomínio que você mora há anos, com o mesmo inconfundível carro VERMEEELHO que, por motivos alheios à sua vontade, também é o mesmo há anos, e o Seo Zé, que deve já ter nascido porteiro de lá, deixá-la plantada na porta da garagem (do lado de fora!) porque você (que usa insulfilm nos vidros do carro por medo de assalto) não abriu o vidro – sozinha e à noite, em frente ao portão – e não colocou a sua mãozinha com a porcaria do crachá do imenso estacionamento de pouco mais de meia-dúzia de vagas, pra fora de frente para a câmera nova (que você nem sabia que estava ali), conforme Circular número tal que a digníssima senhora síndica publicou hoje à tarde, só que você saiu cedo...

É só pelo respeito aos cabelos brancos do Seo Zé mesmo (que é uma obtusa, mas boa pessoa) que você não solta o verbo, e pega o elevador se perguntando se é só com você que essas coisas acontecem... NÃO É! – Isso lhe consola, e você começa a se refazer pensando no monte de coisas legais que ainda pode fazer hoje à noite, como passear com o controle remoto pelos maravilhosos programas televisivos do dia, principalmente os da tevê aberta..., lavar roupa..., etiquetar as compras... e, enfim... DORMIR, DORMIR e DORMIR... Se o pagode do boteco da rua em frente deixar, é claro...

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 19/03/2008
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