Pombos, aves do bem


          Há uma pracinha no meu bairro que hospeda dezenas de pombos.  Ao lado dos periquitos - sobre os quais já escrevi - eles são os "enfeites vivos do espaço" da Pituba.
               A qualquer hora do dia é possível ver uma pessoa alimentando-os. Eu mesmo já lhes levei um quilo de milho. Só faltaram me beijar...
        Nem todo mundo gosta de pombos. Dizem que eles transmitirem várias doenças. E que  sua plumagem azul-cinza esconde parasitas. 
        Um morador da redondeza usou pistolas joaninas para tirá-los da praça. Eles tomaram um susto, bateram asas, mas, em questão de minutos, retornaram à pracinha em voos rasantes e ousados. Pousaram, indiferentes à iracúndia do morador algoz.
         Um pouco antes do sol se pôr, eles desaparecem. Mas, logo ao romper da aurora,  voltam arrulhando. 
         Tenho observado que eles chegam mais alegres e em número bem maior. Parece até que saem por aí avisando a outros pombos: - "Olha, na pracinha da Pituba, tem milho à beça. Vamos lá!"

          Doces pombos! Vêm da mais remota antiguidade. As pesquisas registram que eles foram vistos, na Mesopotâmia, 4.500 anos a.C. 
          Os da Pituba são todos pombos-comuns. Não há, entre eles, nenhum pombo-correio. Embora a pracinha que os acolhe seja a praça do Correio Central de Salvador e se chame Praça Marconi .
          Mas ao vê-los, me vem à lembrança um pombo-correio que conheci na minha mocidade; lá no interior do Ceará. 
          Certa ocasião, confiei-lhe um bilhete, pedindo que fosse entregue a uma pessoa que naquele nomomento me encantava...  Faz mais de sessenta anos que espero a resposta!

               E eu pergunto: teria ele o mesmo destino do pombo-correio do poema de Drummond, ou seja, "sua razão seria apenas voar"?
          O canto dos pombos não é bonito. É um arrulho rouco.  Diferente, por exemplo, do arrulho das juritis, lá do sertão nordestino. 
Mas o bastante  para que haja entre  eles  uma comunicação quase perfeita, resultando, desse entrosamento uma invejável harmonia.
          Reparem, que, até disputando um grão de milho eles não se digladiam; "brigam" pelo grão em clima de cortesia. 

               Quando estive na Praça de São Marcus, na encantadora Veneza, onde milhares de pombos abraçam os turistas, vi, de perto, como eles se respeitam, na hora do rango.
         Não me recordo onde li isto: anotei, mas me esqueci de guardar quem me deu essa informação. Li, que "Salomão nada decidia sem consultar a pomba Butimar e Maomé não pregava aos árabes senão o que lhe segredava o seu pombo, metendo-lhe o bico pela orelha."

          Os pombos são aves pacíficas; amorosas; do amor. Apesar de algumas distorções, são aves do bem; da Paz.  Lembre-se da pombinha da arca de Noé.
          Não foi por acaso que Deus escolheu uma pombinha branca para representar o Espírito Santo. E "O EspíritoSanto - observa Humberto de Campos - santificou, para o homem, todas as aves da terra".

                Eles são a imagem da ternura: quando  a gente vê um casal vivendo momentos de amor intenso e sublime, logo se diz que eles parecem dois pombinhos...  
         É o caso do casal que, neste instante, da minha janela, vejo jogando milho para os alegres pombinhos da Pituba...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 19/03/2008
Reeditado em 28/11/2019
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