Às margens do Sena

Lembra dos dias que passeávamos às margens do Sena, mãos dadas, olhando as barracas de livros...

Caminhávamos muito. De tempo em tempo, uma parada para tomar um expresso. Fumava, ah! Como eu fumava. Eram outros tempos, fumar era charme, ninguém era olhado como é hoje quando acende o cilindrinho branco.

Os rouges! Impossível não sentar num café, fosse ele comum ou conhecido, e não pedir uma taça de vinho tinto. A freqüência do uso algumas vezes era exagerada.

Descendo as escadas, chegávamos pertinho do rio, onde na margem calcada sempre havia pescadores. Raramente apanhavam algum peixe, as águas estavam muito poluídas. Tanto tempo...

Nosso pequeno apartamento alugado no bairro dos estudantes, não muito distante da talvez mais famosa esquina do mundo: o cruzamento do Boulevard Saint-Germain com o Saint Michel. Lugar famoso, as saias eram curtas, curtíssimas, as moças elegantes, coisa que já não se vê mais. O mundo ficou azul da cintura para baixo, os jeans tomaram conta até dos estudantes chineses. Mas não há o que reclamar, é o tempo atual. Hoje vemos turistas usando bermudas com a maior simplicidade. Naquela época, seriam presos e processados, se antes não levassem uma surra dos parisienses sempre gentis pela frente e bastantes agressivos pelas costas. Não todos, claro. Os jovens nunca foram assim.

Por volta do meio dia, a fome nos fazia procurar simpáticos e movimentados restaurantes, tanto na margem direita, como na esquerda do Sena. Como era barato e prático comer! Todos muito limpos, com a nossa tradicional pedida: o vinho da casa e depois sempre, quase sempre, a mesma refeição. Alface, tomate e agrião, com filé de linguado ou um bife dos grandes. O arroz, tão diferente do nosso! Preparamos um bem melhor. O sorvete de sobremesa.

Caminhar nas ruas de Paris é mesmo diferente de tudo. Respiramos beleza por toda parte. Estudos sérios, quando era a época. Professores os mais exigentes. Tempo era o que não nos faltava.

Saudades. Vamos voltar, nem que seja por quinze dias!