Amigos, amigos. Amores à parte!
Pode parecer que há um equívoco nesta frase, mas não há! São sutis semelhanças percebidas entre o que aprendemos e o que vivemos, são associações que fazemos para melhor compreendermos ou adaptarmos o que for necessário às regras do amor. Amores e traições já se tornaram tema de minisséries, roteiros teatrais, produções cinematográficas e até emissoras da TV aberta disponibiliza o teste de DNA ao vivo acompanhado da estória passo-a-passo. Não só no mundo das imagens vemos assuntos desse teor, a comunicação gráfica também se vale delas para aumentar sua circulação. Manchetes bombásticas, contos da literatura, jornais sensacionalistas e romances verídicos. Não nos esqueçamos das estações de rádio, que incluem em sua programação, intervalos onde apenas se relatam fatos relativos aos desamores dos famosos. Nem precisaríamos ir tão longe; em família acontecem misteriosamente fofocas duvidosas que prometem revelar antigos segredos.
Para desvendar os motivos dos acontecimentos tecemos novas teorias. Teoria, imaginação e prática, esse processo comprova a eficácia do que se pensou. Se nos negócios é preciso saber separar as relações, no amor não seria diferente, cada área terá seu conteúdo. Na “teoria do triângulo amoroso” faz-se impossível não visualizar a forma geométrica estudada pela matemática. Se funciona para descrever o Triângulo das Bermudas, podemos aproveitá-lo inclusive para buscar pistas que esclareçam o mistério que consome a nossa curiosidade humana de saber o que se passa na vida dos outros. E é claro, para identificar se percebemos algumas dessas características na nossa proximidade.
Toda relação amorosa se inicia a dois, contudo, raramente permanece assim por muito tempo. Afinal somos seres sociáveis! Voltando ao concretismo da matemática, vejamos como esse triângulo amoroso se forma. Nós convivemos em círculos de amizades, mesmo aparentemente distante transmitem um sinal. Um código onde só eles sabem decifrar. Como se já se conhecessem há muito tempo. Mas é apenas atração de afinidades. Quando eles se aproximam ocorre uma intercessão entre os conjuntos, nela dois pontos com algo em comum se aproximarão mais que os outros.
Apesar de dentro do próprio grupo haver amigos mais próximos, uma reta ligará esses dois pontos, uma ao outro. Uma linha ou reta, que ligará esses dois pontos se formará quando eles se expandirem para além dos círculos. Ou seja, eles se apresentaram dentro da intercessão, mas será fora dela que eles se conhecerão. Nesses breves momentos a sós, sentimentos e desejos partiram de cada ser até se encontrarem e a intensidade desse choque será uma explosão vertical para fora dos círculos.
Tudo que se expande, acaba por despertar atenção de um terceiro ponto, ou seja, de outro integrante do grupo que não fez parte da intercessão. Intercessões sempre incomodarão alguém que se sente excluído dela. Passa então, consciente ou inconscientemente, a desejar interferir nessa união de afinidades inconveniente. Está formado um triângulo nada eqüilátero....
Na matemática tudo tem um desfecho esperado, pois existem regras a serem seguidas, etapas a serem realizadas isso significa que a evolução do quadro alcançará o ponto que deve. Mas na teoria do triangulo amoroso, essa lógica não existe. Não há regras, apenas um senso moral correspondente a cada individualidade. Dessa forma os desfechos são os mais variados, o “enquanto dure” assume estratégias de irracionalidade emocional. As brechas acontecem pelos sentimentos serem mútuos, mas não necessariamente na mesma intensidade entram em ação o incomodado, que não se retirou ainda.
E começam os jogos de espionagem, dignos de James Bond, com direto a informantes alguns voluntários, simpatizantes de uma causa. Outros involuntariamente convocados. Uma guerra fria, tensas batalhas onde o vencedor será aquele que melhor controlar suas emoções. E como em toda guerra, sabemos que existirão baixas, vidas, amizades serão sacrificadas em nome de um sentimento maior. Se tudo tem um preço, quanto maior o desejo maior a conquista, quanto maior a conquista mais alto o preço a se pagar. Esse é o momento em que lembramos um daqueles chavões: o amor é cego ou olhos que não vem olhos que não sentem. Mas não podemos considerá-los filosofias. O amor quando é recíproco, não pede extremismos, requer renúncia. A paixão sim, fecha os nossos olhos, cega nosso coração e causa pane no sistema emocional das pessoas. Impulsos neurológicos descontrolados deturpam o bom senso.
Na verdade, não há como evitar a tristeza de alguém para chegar à almejada felicidade amorosa. Caso não sejamos as vítimas outros o serão. A felicidade de viver a vida com o sonhado amor vale todo o esforço, investimento e desgaste temporário. Contudo, na maioria das vezes, só quando fazemos o caminho de volta pelo campo de batalha para buscar o espólio de guerra, é que percebemos o massacre...
Nesta guerra fria e quente, não são corpos que encontramos. O que nos assusta é quantidade de corações partidos; olhares de raiva e mágoa nos acompanham passo a passo. Gemidos de dor, lágrimas de inconformação, revolta. Como pode o amor nascer da desolação de tantos? Por mais que tenhamos poder sobre os vencidos será que sentimos satisfação por essa “vitória”? Entre as perdas pelas escolhas feitas, perdemos família, amigos, antigos aliados, restando muitas vezes à solidão a dois.
Em um curto espaço de tempo, perdemos momentos eternos que seriam uma alegria ao serem lembrados, transformando-os em amargas memórias. Tudo por entrar no “jogo do amor” que deliberadamente resolvemos participar. Esquecemos os das conseqüências futuras, nos perdemos em estratégias e desejos, perdendo também a noção de limites e respeito. Não que isso seja o motivo de deserção, mas de render-se ao verdadeiro amor, que nunca está em jogo. O amor acontece, realiza-se seja com quem for sem forçar o destino para agradar alguém. Nesse longo caminho de aprender a amar, não confundamos: amigos, amigos, amores à parte!