"Racismo na sociedade"

O racismo na sociedade

O racismo na sociedade brasileira tem causado sérios transtornos aos negros, porque impede que eles participem da integração social; a manifestação desta aberração é sutil e disfarçada de tal modo que não se percebe sua manifestação. Há exclusão, descaso, e desvalorização desta parcela do povo brasileiro. A hipocrisia não permite que o preconceito seja admitido como prática comum.

Em pleno início do terceiro milênio, ainda não se conseguiu superar o terrível mal da segregação racial; exclui-se o negro por qualquer motivo, considerando-no inferior, impedindo sua auto-afirmação como individuo que pode contribuir para o crescimento do Brasil. Isto pode ser notado no elevado índice de analfabetismo, pobreza e marginalidade nesta classe. É tudo tão absurdo que, se um negro for visto dirigindo um carro de luxo, logo é considerado traficante e que provavelmente seu carro é roubado. Em blitz policial, se houver um negro, ele será sempre o primeiro suspeito. Criou-se o conceito de que os espaços mais nobres da sociedade não podem ser ocupados pela senzala.

Nega-se inclusive, o Papel de destaque que esta raça exerceu na história, sendo que o desenvolvimento deste país se deu justamente com sua contribuição, apesar de estar longe de sua pátria mãe, trabalhou muito, ainda que obrigado. Os piores trabalhos foram executados por eles. Deve-se reconhecer sua força, pois sempre lutaram para conquistar dignidade à custa de muito sangue e suor. Em qualquer parte desta terra, encontrar-se-ão marcas de sua luta. A cultura, a arte, a música e culinária seriam mais pobres sem a participação dos negros, que representam a grande maioria da população.

Apesar dos espaços conquistados, eles ainda têm muito crédito. A sociedade tem que saldar a dívida enorme que tem para com eles. Só para se ter uma idéia, quase não se encontra negros nas universidades, que segundo pesquisas, eles são somente 3% dos universitários e quando se formam, não conseguem os mesmos espaços que outros profissionais da elite dominante conseguem. É mister que se devolva dignidade, igualdade de direitos e oportunidades ao povo que luta incansável em condições desumanas para conseguir seu lugar ao sol. Não se pode simplesmente impedir, mediante ações mesquinhas, a possibilidade de crescimento e liberdade a quem luta contra todo tipo de exclusão e opressão. O fato de ser negro não significa ser cidadão de 3ª categoria.

Portanto, chegou o momento da sociedade encarar o preconceito de frente, discuti-lo claramente, sem subterfúgios, avaliar os seus transtornos; assumir que o prática e, se possível, combatê-lo e conscientizar-se de que a cor da pele não transforma o ser em mais ou menos superior que o outro. Geneticamente, todos são iguais. Todos têm sentimentos; amam, riem, sentem dores, choram, ficam tristes e desejam dias melhores. São gerados da mesma forma. A diferença está tão somente na cor da pele, nos costumes e no habitat. A beleza está justamente na enorme diversidade existente no universo. Conviver em harmonia com as diferenças é uma qualidade do ser humano.

Com todo o processo de segregação racial, podemos afirmar que o negro é uma raça forte, tanto no que se refere à força física, quanto à força psicológica, porque encara as adversidades com coragem; vai superando as barreiras e abrindo fronteiras para se firmar como ser capaz de modificar realidades desfavoráveis. Mediante a ação de diversas entidades representativas de diversos estados, como Olodum na Bahia, Consciência Negra do Rio Grande do Sul e Fundação Palmares entre outras, podemos constatar que os negros conseguem recuperar seus direitos e buscam através do exercício da cidadania, a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a dignidade plena. Vemos diversos negros influentes na política, no meio acadêmico, na literatura e na vida social. Não é o suficiente, mas é o começo do resgate da autonomia desses nossos irmãos, que durante sua história, têm sido injustiçados sistematicamente.

Silvanio Alves da Silva (21/02/2001.