A rotina
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– Ei, acorde! Já são cinco horas da manhã.
– Agora não. Espere um pouco. Ainda está cedo. Está escuro, não vê?
– Que droga! Vou chegar atrasado novamente. Todo dia a mesma coisa, a mesma chateação. Você não sabe que tenho aula às sete horas!? Como podemos estar tão próximos e termos atitudes tão diferentes agora? Até quando essas disparidades perdurarão? Até que ponto essas divergências serão suportadas? Tenho pressa em demasia e preciso aproveitar as maravilhas da vida. Tenho aspirações, sonhos; será que você nunca perceberá isso?
– Chegue atrasado hoje! Estou com sono.
– ...
– ...
– Ei, acorde! Já são cinco e vinte.
– Ah, meu Deus! Que homem chato!
– Você só aprenderá a se levantar no horário quando eu for sozinho, no dia que deixar você aqui para ir de ônibus depois!
– Tá bom. Vou acordar a Laryssa.
– ...
– Não! Não! Não!
– Acorde, menina! Tá na hora de ir ao colégio, vamos!
– Não! Não! Não!
– Ela vai estudar, vai brincar, vai pintar. Como é o nome da tua tia?
– Não é tia. É professora.
– Olha, papai! Ela vai tomar o mingauzinho dela.
– Não! Não! Não!
– Tome o mingau, Laryssa! Todo dia é a mesma coisa! Tome se não você vai apanhar!
– Não quero. Olha aí, papai, ela. Olha aí!
– Tome o mingau Laryssa!
– Cadê o meu...
– Vai fazer a menina engolir a força, vai? Se ela não quer tomar, não dê.
– Vai tomar, sim.
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– Como ela tá bonita com a roupinha do Colégio! Ela vai ao colégio, papai.
– Vou aprender o bê-á-bá!
– Estou descendo.
– Não vai levar o celular, não?
– Pegue pra mim.
– Pegue você!... Não sou sua empregada, não! Quando você deixará de me ver apenas como mera porta-esquecimento? Só me aborda para cobrar, mostrar meus defeitos.
– Não te falei que o trânsito neste horário é horrível. Se demorar dez minutos além do horário já se pega um engarrafamento tremendo. Até as 6h20min é rápido... Depois disso... Você sempre está perdida no tempo. Parece que não vê as mudanças ocorrerem. Será que nunca caminharemos num mesmo ritmo, buscando as mesmas realizações?
– Por que não me chamou cedo, ora mais? Só sabe reclamar.
– Eu te chamei às cinco horas.
– Chamou, mas ficou deitado. Eu fiquei esperando você levantar. Não venha botar a culpa em mim, não.
– ...
– ...
– Tchau. A bênção do papai, Laryssinha.
– A bênção.
– É com a outra mão. Que Deus te abençoe.
Ao anoitecer.
– Chegou atrasado?
– Não.
– Não falei. Não sei o porquê de tanta pressa.
E mais uma noite se passa. No dia seguinte:
– Ei, Acorde! Já são cinco horas da manhã.
Nijair Araújo Pinto
Fortaleza - Ce, 04 de março de 1999.
Do meu livro 'Crônicas e mais um conto'