ANO NOVO?
[Esta crônica foi publicada em 01 de janeiro de 2004. Para mim, ela é sempre atual. Desculpem...]
O velho ano novo desperta em meio a muitas luzes e muito barulho. E nem mesmo esse despertar é novo... nunca muda...
Mas o ano, este sim, é novo: um algarismo se alterou na contagem do tempo.
A humanidade crédula se entusiasma com uma perspectiva repetida todos os anos... incansavelmente! Toda a gente se alvoroça fazendo planos e propósitos, alimentando o sonho de mudanças sempre para melhor. Mas sabe no fundo que nada vai mudar e que vai chegar ao fim deste ano, hoje novo, com o mesmo gosto amargo do velho. Ninguém quer ver, mas sabe que vai chegar a hora de jogar fora novamente, ao findar deste ano a mais, os planos e propósitos que envelheceram sem que nenhuma mudança tivesse acontecido. E tem que jogar porque as nossas gavetas pedem espaço para guardar os mesmos sonhos, agora renovados, ao lado das mesmas mazelas que não precisam ser planejadas.
E todos sabemos que um dia, num ano que mudou de algarismo, tudo vai se acabar e não teremos tempo de jogar fora os sonhos irrealizados e a capacidade absurda que temos de sonhar.
Pobre e admirável humanidade!
Nota: Enquanto escrevo esta crônica amarga e realista, meu cão está deitado ali no sofá ao lado, atento a cada gesto meu, como faz todos os dias, entra ano e sai ano, num gesto de fidelidade que jamais vai mudar.