Festa sem cor.
Aniversário de Rietê
Uma dupla sertaneja - um homem e uma mocinha, mineiros - cantavam em comemoração ao aniversário da cidade às margens do rio Tietê. Arrepiei-me com ‘Adeus Paulistinha’ e uma outra moda que falava da estrada de terra vermelha, poeirenta, boadeira, que o progresso a fez asfalto e virou saudade. Lamentei a literatura paulista que parece tão distante, inexistente - se existe, ninguém vê; eu não vejo, não sei -não registrar tais transformações.
Acabou-me a tolerância quando a autoridade apareceu no palco e entregou Medalha Comemorativa dos 50 Anos da Morte de Cornélio Pires. Sem nenhum cerimonial meritoso, nenhum orgulho, nenhum brio, passou uma medalha a cada cantor como se entregasse uma banana à beira da podridão a um andante. O artista agradeceu superficialmente e disse que só faltava ser de ouro para ser bom de verdade. Então, dei de cara com o prefeito, desenganei-me e fui embora a ruminar.
É muito mais valiosa que o ouro. É a identidade de um povo, do povo paulista, caipira! Quanto vale a alma do povo paulista? Para mim, vale mais que o vil metal ouro cuja extração destrói a natureza desde as entranhas da terra e se espalha pela superfície, rios...
Ninguém falou nada em réplica e a referida autoridade sumiu, como que escondendo a cara por ter sido ‘obrigado’ a enaltecer Cornélio Pires, o caipira que ousou ostentar a grandeza de uma gente, a gente caipira, paulista, brasileira...
Quando era pequeno, meu sonho era crescer e ganhar o mundo, aliás, ganhar São Paulo. Quantas vezes exigi, na base da porrada, que meu vizinho se retratasse de ofensas que fazia a São Paulo? Era puxa-saco de carioca e xingava o povo paulista no intuito de me insultar. Penso nisso e me pergunto: fosse eu paulista, orgulhar-me-ia desta terra ou enalteceria Europa e Estados Unidos como referenciais de grandeza, civilidade e progresso?
Tal raciocínio conduz flecha cheia de veneno aos que procuram melhores condições de vida no primeiro mundo. Flechas que podem também espetar-me tranquilamente já que deixei minha terra natal e estou aqui, no meu primeiro mundo. Porém, não esqueço do meu Ceará e não o tiraria da minha historia por nada!
(Fora de data, nomes ocultos ou cifrados para não atingir melindres de ninguém, pelo menos hoje).