Canudos
começou no Ceará
Salvador é uma cidade que tem poucos Sebos. No Rio e em São Paulo a gente os encontra com muita facilidade; no centro e nos bairros chiques.
Nos Sebos já comprei preciosos livros. Livros rejeitados por seus ex-donos, e que, deselegantes, não se preocuparam em apagar a dedicatória que mereceram, naquela tarde de autógrafo.
Bem como livros esquecidos pelas Editoras, que não cuidaram de reeditá-los. Querem um exemplo? Os livros de Humberto de Campos.
Até o saudoso Josué Montello, em Encontro com meus mestres, chegou a pedir a reedição do Diário Secreto, do brilhante autor de Sombras que sofrem.
Em outras crônicas, roguei às Editoras que, por favor, tirassem do esquecimento o formidável escritor maranhense.
Continuo alimentando a esperança de ver Humberto de Campos nas nossas livrarias que, afirmar é forçoso, nem sempre oferecem livros brasileiros que vale a pena serem lidos.
Já disse e aqui repito: quando quero relaxar, leio Humberto de Campos. Ontem, por exemplo, reli Um sonho de pobre e A bacia de Pilatos, livros que adquiri num Sebo de Salvador.
Em Um sonho de pobre, uma crônica, escrita no meado do século passado, voltou a me chamar a atenção.
Humberto de Campos homenageia o famoso jornalista João Brígido, morto em 14 de outubro de 1921. Lá pras tantas, Humberto recorda um episódio ocorrido na vida do homenageado, que reputo da maior significância.
Esse fato levou-me a admitir que a guerra de Canudos começou no Ceará, muito antes de explodir em terras baianas.
Mas quem foi João Brígido? Dos cearenses, ele é um velho conhecido. Brígido nasceu nodia 3 de dezembro de 1829. Não era cabeça-chata. Era capixaba, de São João da Barra, quando essa cidade ainda pertencia à província do Espírito Santo. Só depois, São João da Barra, por força de lei, foi anexada à província do Rio de Janeiro. Anexação que não agradou a João Brígido. Em sua auto-biografia teria deixado registrado: "Não protestei, porque mamava."
Ainda criança, Brígido mudou-se para o Ceará, torrão que amou até morrer. Na terra de Iracema, mais do que qualquer outra coisa, ele foi jornalista.
Um jornalista com as principais caracteristicas que identificam um verdadeiro homem de imprensa: foi combativo, polêmico e corajoso.
Para Humberto de Campos, "o mais temível jornalista que o Ceará possuiu na Monarquia e na República..."
Conta-se, que quando estava para morrer, pediu para ser enterrado "em posição vertical". E observa Humberto: "Não queria descansar nem, sequer, depois de morto."
Não foi atendido. Enterraram-no na posição horizontal. Deve ter xingando, impiedosamente, seus familiares.
Na mesma crônica, Humberto de Campos destaca a amizade que unia João Brígido a Antônio Vicente Mendes Maciel que, tempos depois, viraria o lendário beato Antônio Conselheiro. Uma amizade feita na adolescência quando ambos desfrutavam das belezas do sertão alencarino.
Certa ocasião - recorda HC - Brígido e Maciel banhavam-se em um açude em Quixeramobim, calorenta cidade cearense. De repente Antônio Maciel começou a se afogar. Brígido, milagrosamente, o salvou da morte.
Em seus escritos, o polêmico e caustico jornalista nunca deixou de ressaltar a amizade que o ligava a Antônio Maciel.
Com todas as tintas, relata : " Salvei da morte Antônio Conselheiro; salvou-se ao meu pescoço de um afogamento num poço estreito e profundíssimo."
Segundo Humberto, esse fato "lhe fazia dizer, às vezes, ter sido ele o culpado da campanha de Canudos".
A guerra de Canudos não teria acontecido se Antônio Conselheiro tivesse morrido afogado no açude de Quixeramobim, sua terra natal.
João Brígido morreu, em Fortaleza, aos 92 anos de idade. Morreu cego - a pior desgraça que pode acontecer a quem gosta de ler e escrever.
Ninguém quer guerras. E guerras sangrentas como a de Canudos, nem pensar.
Mas se desse embate sertanejo e pleno de fanatismo alguma coisa positiva resultou, essa coisa foi Os Sertões, de Euclides da Cunha, um clássico da literatura pátria, lido - diga-se de passagem - por poucos brasileiros.
começou no Ceará
Salvador é uma cidade que tem poucos Sebos. No Rio e em São Paulo a gente os encontra com muita facilidade; no centro e nos bairros chiques.
Nos Sebos já comprei preciosos livros. Livros rejeitados por seus ex-donos, e que, deselegantes, não se preocuparam em apagar a dedicatória que mereceram, naquela tarde de autógrafo.
Bem como livros esquecidos pelas Editoras, que não cuidaram de reeditá-los. Querem um exemplo? Os livros de Humberto de Campos.
Até o saudoso Josué Montello, em Encontro com meus mestres, chegou a pedir a reedição do Diário Secreto, do brilhante autor de Sombras que sofrem.
Em outras crônicas, roguei às Editoras que, por favor, tirassem do esquecimento o formidável escritor maranhense.
Continuo alimentando a esperança de ver Humberto de Campos nas nossas livrarias que, afirmar é forçoso, nem sempre oferecem livros brasileiros que vale a pena serem lidos.
Já disse e aqui repito: quando quero relaxar, leio Humberto de Campos. Ontem, por exemplo, reli Um sonho de pobre e A bacia de Pilatos, livros que adquiri num Sebo de Salvador.
Em Um sonho de pobre, uma crônica, escrita no meado do século passado, voltou a me chamar a atenção.
Humberto de Campos homenageia o famoso jornalista João Brígido, morto em 14 de outubro de 1921. Lá pras tantas, Humberto recorda um episódio ocorrido na vida do homenageado, que reputo da maior significância.
Esse fato levou-me a admitir que a guerra de Canudos começou no Ceará, muito antes de explodir em terras baianas.
Mas quem foi João Brígido? Dos cearenses, ele é um velho conhecido. Brígido nasceu nodia 3 de dezembro de 1829. Não era cabeça-chata. Era capixaba, de São João da Barra, quando essa cidade ainda pertencia à província do Espírito Santo. Só depois, São João da Barra, por força de lei, foi anexada à província do Rio de Janeiro. Anexação que não agradou a João Brígido. Em sua auto-biografia teria deixado registrado: "Não protestei, porque mamava."
Ainda criança, Brígido mudou-se para o Ceará, torrão que amou até morrer. Na terra de Iracema, mais do que qualquer outra coisa, ele foi jornalista.
Um jornalista com as principais caracteristicas que identificam um verdadeiro homem de imprensa: foi combativo, polêmico e corajoso.
Para Humberto de Campos, "o mais temível jornalista que o Ceará possuiu na Monarquia e na República..."
Conta-se, que quando estava para morrer, pediu para ser enterrado "em posição vertical". E observa Humberto: "Não queria descansar nem, sequer, depois de morto."
Não foi atendido. Enterraram-no na posição horizontal. Deve ter xingando, impiedosamente, seus familiares.
Na mesma crônica, Humberto de Campos destaca a amizade que unia João Brígido a Antônio Vicente Mendes Maciel que, tempos depois, viraria o lendário beato Antônio Conselheiro. Uma amizade feita na adolescência quando ambos desfrutavam das belezas do sertão alencarino.
Certa ocasião - recorda HC - Brígido e Maciel banhavam-se em um açude em Quixeramobim, calorenta cidade cearense. De repente Antônio Maciel começou a se afogar. Brígido, milagrosamente, o salvou da morte.
Em seus escritos, o polêmico e caustico jornalista nunca deixou de ressaltar a amizade que o ligava a Antônio Maciel.
Com todas as tintas, relata : " Salvei da morte Antônio Conselheiro; salvou-se ao meu pescoço de um afogamento num poço estreito e profundíssimo."
Segundo Humberto, esse fato "lhe fazia dizer, às vezes, ter sido ele o culpado da campanha de Canudos".
A guerra de Canudos não teria acontecido se Antônio Conselheiro tivesse morrido afogado no açude de Quixeramobim, sua terra natal.
João Brígido morreu, em Fortaleza, aos 92 anos de idade. Morreu cego - a pior desgraça que pode acontecer a quem gosta de ler e escrever.
Ninguém quer guerras. E guerras sangrentas como a de Canudos, nem pensar.
Mas se desse embate sertanejo e pleno de fanatismo alguma coisa positiva resultou, essa coisa foi Os Sertões, de Euclides da Cunha, um clássico da literatura pátria, lido - diga-se de passagem - por poucos brasileiros.