PERSIANAS
Como professor, sei que sou chato – mas um chato ‘quase’ necessário. Mas, entre as minhas chatices existe o lado bom – e, como profissional, as minhas aulas são boas (reconhecidas pelos alunos).
Pelo menos duas vezes por mês visitamos a biblioteca e vamos à sala de leitura. Para quem não sabe – ou não entende – na escola em que trabalho, ao lado do anfiteatro, há uma sala com duas estantes de livros (poesias, crônicas, romances – e com vários volumes de cada títulos). Nesta sala não há cadeiras ou carteiras, há apenas uma poltrona azul pra o professor, três tapetes grandes e umas quarenta almofadas. Lá os alunos se sentem no céu: escolhem o livro (esta semana nos primeiros anos do Ensino Médio lemos fábulas e nos terceiros anos do Ensino Médio, contos), deitam no carpete, recostados nas almofadas, e com som – música clássica: Richard Clayderman ao piano. Vale registrar que a biblioteca e a sala de leitura não é o mesmo lugar – pelo menos onde trabalho.
Continuando – melhor, voltando ao assunto que ainda não iniciei, na sala de leitura, sentado ora na poltrona azul, ora no tapete ao lado dos alunos, comecei a observar a paisagem pelas frestas das persianas. Como a sala é no andar superior do prédio, se vê as árvores – algumas, por cima. Não me contive. Aproximei-me das vidraças – com as mãos afastei parte das persianas. Não me contive: abri lentamente as mesmas: um ‘mundo novo’ se abriu.
A claridade inundou plenamente o ambiente – apesar de lá fora o dia estar nublado – e estampou no rosto de cada um ali presente. O burburinho das leituras também tomou vida.
E eu, no final do período, ao fechar as persianas, a fechar um mundo. E a filosofar: do meu sobrado também sonho em desvendar o que há por trás das persianas vizinhas.
Prof. Pece - Pedro César Alves
www.professorpece.vai.la
Araçatuba / SP
Março/2008.