Conto de fadas "Uma conversa comigo mesma"

Olha para ela; sentada na beira daquele rio, como se estivesse procurando algo que se perdeu dentro dele. Onde suas correntezas levam seus pensamentos e com eles seus desejos, suas dúvidas, suas alegrias e tristezas. Viu alguns sapinhos, e pensou: será que alguns deles pode ser o meu príncipe. Envolta com seu pensamento riu de se mesma:

- Que bobagem essa de achar que um homem pode estar escondido dentro de algum sapo... Mais se até a “Fera” virou um príncipe, eu posso me transformar na “Bela” e viver feliz para sempre!

Vendo aquelas águas correrem para encontrar o mar, sempre em busca de um “aconchego” para descansar. Enfrentando vales, pedras, curvas, altas quedas d’água... Perguntou-se:

-Por que ninguém se arriscou por mim? Enfrentar florestas de espinhos, uma bruxa malvada ou escalar uma torre por um beijo. Dormiria até com calmante para esperá-lo; jurava que deixaria os cabelos crescerem, ou melhor, usaria a modernidade e colocaria um enorme “mega-hair” para lhe ajudar na subida da torre.

O dia então passa; e ela ainda esta na beira do rio, a observar tudo a sua volta. As folhas de um cajueiro que balançam ao vento, os raios de sol que iluminam seu olhar no reflexo da água. E então observa no rio um cardume de peixes. ..

-Que lindo! Sempre juntos no caminho, se ajudando, se protegendo, sempre unidos. Olhando ao seu redor, abaixa a cabeça e se ver sozinha com seus pensamentos.

Levanta-se e vai para debaixo do cajueiro e diz em voz alta:

-Soneca, zangado, dengoso; cadê vocês?

Assusta-se com seu gesto:

-Estou ficando louca; duendes, gnomos... Meu Deus isso não existe!

Senta-se novamente, ali mesmo, debaixo daquela árvore; olha o céu e ver o sol irradiando alegria. Seu pensamento num súbito de loucura imagina uma enorme tempestade, água carregando tudo e todos , um barco de papel, um soldado de chumbo, uma bailarina, um amor... Mais a água não conseguiu apagar o fogo e se formou um coração, que não bate, não sente, sem vida! Conversando consigo mesma chegou a uma conclusão:

- Esses contos de fadas não têm lógica, tem sempre um fim abstrato. Pensando bem... Será que as três fadas que apareceram para ajudar “A Bela adormecida” vieram ate mim quando nasce? Se elas vieram mesmo, já deveria ter adormecido pelo número de vezes que furei o dedo, ou melhor, dizendo os dedos. E meu príncipe esta esperando o que para vim me acordar com um beijo daqueles que Julia Roberts recebeu no filme “Uma Linda mulher”.

Se eu tivesse uma madrasta que me fizesse lavar o chão, servi-la e me trancasse no porão por não obedecê-la; tenho certeza que me processariam por acabar com o sonho de ser “cinderela”, então acabar-se-iam os contos de fadas e com elas até os sonhos das “Amélia- a mulher de verdade”.

Voltando a olhar o rio com suas águas inquietas; resolveu contar o seu conto de fadas.

-Sou uma mulher ainda a escrever minha historia, com muitos príncipes, bruxas, anãos e como um rio com águas inquietas que sempre deságuam em algum lugar, e se este lugar estiver cheio demais, forma-se outro rio e vai à busca de outro mar.

Núria Mariana
Enviado por Núria Mariana em 16/03/2008
Código do texto: T903696