Admirável mundo branco
Num canto esquecido da biblioteca maldita, o vate folheia aleatoriamente algumas revistas, esgotado pela leitura prolongada de algum livro de Direito ou História. Numa edição d’ O Judiciário Paulista, publicação do Tribunal de Justiça de São Paulo, uma fotografia lhe chama a atenção.
É uma turma de juízes recém aprovados. O bardo não teve a louvável paciência de contar quantos eram, mas deviam estar ali algumas dezenas ou até uma centena de magistrados. O que o comoveu não foi a pouca idade daqueles juízes, a elegância com que se vestiam ou o semblante calmo e meditativo que adquiriram em dias inteiros de estudo.
Faltava alguma coisa naquela fotografia. Ou sobrava.
- O que é isto?! Não temos um juiz negro? E só uns dois ou três afrodescendentes conseguiram sair nesta foto!
Neste momento, o vate recordou-se de uma fotografia de uma turma de recém aprovados num concurso de diplomata, onde também só havia brancos. E também lembrou-se de um grupo de promotores recém aprovados…
E assim chegou à triste conclusão: na geografia da cor, essa parte do mundo é branca. Nem se mencionem as exceções. É mais comum vermos extraterrestres de dia do que negros na magistratura.
- Venha cá, meu pajem. Traga minha pena e meu charuto. Eu vou escrever. E esconda esta revista, antes que alguém queime a vista com tanta claridade.