BRIGA DE CACHORRO GRANDE

Sexta feira à tarde, um senhor, em torno de cinqüenta anos, vestindo um calção de jogador de futebol e uma camisa jovial, estava saindo da pista de Cooper da Ponta Negra, e continuou a correr na própria rodovia. Ele, moreno, barba por fazer, bigode meio grisalho, magro e não muito alto, porém de porte atlético e ágil. Na camisa, na parte dianteira estava escrito: “tem um corno me olhando”. Quando ele passava, podia-se ler pelas costas: “continua me olhando”.

Um carro da polícia, uma van Ford Explorer, com uma mini cela no bagageiro, andava com quatro pessoas: um policial ao volante, o Secretário Estadual de Segurança Pública na frente, do lado direito e dois policiais no banco de trás. Parou ao lado do senhor. O secretário era daqueles que achava tudo podia ser resolvido de maneira truculenta por isso, ordenou:

- Ei, velhote. Tira a camisa que é ofensiva. Não se usa isso em lugar público.

O carro rodava lentamente, o secretário no banco da frente com o vidro baixado, aguardava ver sua ordem cumprida.

- A camisa é um presente da minha filha. Ela ficaria chateada se eu a amarrotasse. – Respondeu o senhor com um sorriso jovial e continuando sua marchinha, sem o menor gesto de querer obedecer.

O secretário irritado ordenou aos dois soldados do banco de trás.

- Joguem esse insolente no camburão, é bom que aprenda respeitar autoridade.

Os policias, não muito gentilmente, abriram a porta de trás da van e nem precisaram força, porque o senhor entrou com docilidade. Para cumprir as ordens do secretário tiraram a camiseta dele, deixando-o o só com o calção. O carro rodou por mais de meia hora, pela orla do Rio Negro, quando voltou em direção ao centro da cidade.

A área é altamente militarizada, concentrando 12 dos 19 quartéis de Manaus. Quando passavam à frente da sede da Polícia do Exército viram que havia uma barricada, o que parecia ser uma manobra militar. Os policiais se viram frente a uma dúzia de metralhadoras apontadas em sua direção. Um tenente, que comandava a operação, ordenou aos ocupantes do carro da polícia:

- Desocupem a viatura!

- O que está acontecendo? – Perguntou o secretário, mas ante as ameaçadoras metralhadoras resolveu obedecer.

- Libertem o prisioneiro- continuou o tenente. Foi obedecido pelos policiais que se esqueceram de perguntar ao secretário.

- Calma ai – vociferou o secretário, recuperando sua grosseria e autoridade. – Quero falar com seu comandante. - A voz dele foi minguando, quando tiraram o prisioneiro do camburão e todos os militares se perfilaram batendo contoinência.

- O senhor está bem, meu General? – perguntou o tenente ao “prisioneiro”.

- Estou bem – disse o General Comandante Militar da Amazônia, respondendo a continência. – Pode levar esses homens e a viatura ao quartel. Assegure-se que não levem celulares pra cela – completou, tirando o seu do bolso interno do calção.

Os policiais foram liberados em seguida. Vinte e quatro horas mais tarde, após muitos telefonemas do governador a Brasília, o Ministro da Defesa achou que a lição tinha sido bem aplicada ao secretário e pediu ao seu Comandante Militar da Amazônia que autorizasse sua soltura.

É a primeira vez que conto esta história, depois de muitos anos do ocorrido. Por motivos óbvios os nomes foram ocultados. Porém os fatos, os locais e os cargos sõa verídicos.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 14/03/2008
Reeditado em 14/03/2008
Código do texto: T901130
Classificação de conteúdo: seguro