Promessa de uma vingança
Os primeiros raios de sol agrediam levemente o meu rosto enrugado, cansado de tanta vida, de tantas coisas iguais e momentos normais, desejo, porém, ficar em paz, só, com minha velhice, as memórias de uma morte inventada, sossegada e cheio de choros, gemidos de dor daqueles parentes, amigos e até desconhecidos que lembrarão de mim nesse dia de morte. No caminho que faço todos os dias (o médico recomendou), andando sem pretensão, pensando nesse dia breve que a vida se esquecerá de mim, vejo tudo comum; carros, estudantes, velhos, animais, árvores e penso nesses movimentos que de tão normais, são estranhos. Passei por um grande campo de futebol, vazio e de chão úmido, ainda da chuva que inundou noite passada, mesmo com todo respeito merecido, a mosca pousou na pele, fazendo-me lembrar que aquele seria um dos únicos dias que havia tomado banho. Depois a mosca rodopiou na minha frente como se quisesse zombar, provocar para uma briga. Aceitei a provocação e gritei:
–Respeite os mais velhos sua rapariga!
A mosca revidou com força, pousava nas minhas costas e depois no braço.
Comecei a bater nela com a mão (ou pelo menos tentei) mas a filha da puta continuou enchendo o meu saco, apressei o passo e ela me acompanhou, como uma inimiga fiel dos últimos dias. –Vá embora!!!. Gritei novamente, ela fingiu nem me ouvir, caçoava da minha raiva cada vez mais psicótica. Não sei o que aconteceu com a mosca, deve ter morrido, as vezes me lembro dela com rancor , e penso que queria ser uma mosca... então, me deito no sofá e por mais um dia espero a minha hora....
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