" CARTA DA EXCULHAMBAÇÃO "

Aqui na comunidade, há moradias irregulares, como em toda periferia. Há becos prá todos os lados. Quém não tém como identificar a morada, escreve para parentes e derentes com o endereço da sede. Roberto guarda as cartas, como quem guarda uma relíquia. Só que nem tudo corre trânquilo.

João da Mata, (Ele nasceu no bairrro da boca da mata). Estava aguardando uma correspondência a muito tempo. Todo dia ia ele na sede ter informação da dita cuja. Um belo dia a espera acabou. Ele era só sorriso. A carta chegara, e ele precisava saber do que se tratava.

Roberto tinha a leitura limitada, Da Mata, idem. Buscaram-me como solução imediata, (Antes de começar a leitura, Damata fez algumas resalvas, coisa que eu entende e atendi prontamente). Começei não revelando o nome do remetente, (Era segredo de estado). A carta era um tanto quanto desaforada, prá começo de história, o remetente soltou o verbo. Chamava Damata de cahorro prá baixo, (Não posso contar aqui). Resumindo, depois de todos os codinomes de baixo calão, o remetente queria receber um pagamento por muito atrasado.

Damata, retou-se. Bateu o pé, dizendo-se inocente da tal calúnia.

_ Isso é uma exculhambação, (Exclamava ele), Ela pensa que eu sou otário! (Pronto, foi o suficiente prá se saber que o remetente era ela).

Ele pediu-me para dizer-lhe, no ouvido o nome da tal. Falei-lhe. Ele riu, disse que nem conhecia a tal fulana. Entregou-me o envelope. Ele tinha razão. A dita carta, era prá outro João.

_ Mais que exculhambação, viu professor.

Rimos, guardei a carta no envelope. Roberto coloco-a na caixa. Fechou o cadeado.

Abrimos uma gelada.