O caso da barata
Dizia que era escritor, mas era antes de tudo um ecologista, um inato paladino defensor dos insetos, algo muito raro nesse nosso mundo tão cheio de fumaça e inseticidas.
Acordou naquela manhã já atrasado, mas nunca deixaria de tomar seu banho, apesar de escritor era muito atento a higiene e nao concordava com aqueles filmes que mostram os escritores como sujeitos psicodelicos, desatentos e que não se importam com a aprencia e bebem e fumam e tem manias estranhas, correu rumo ao banheiro deslocando sua mãe que já ia entrando para fazer alguma necessidade que ele até hoje prefere ignorar.
Pronto, agora o banheiro era todo seu, seu oasis e seu abrigo, pos se a tomar seu banho enquanto desafinadamente assoviava a Saudade de Matão.
Quando pegou a toaha notou nela a presença de uma vistosa e gorada, e por que tambem não dizer, simpatica, ortoptera da familia dos blatidios, tambem conhecida como barata, lhe encarando com as antenas de pé.
Ele balançou a toalha e a tal parente dos blatidios caiu no Atlantico poluido que lhe sobrara do banho, mas obedecendo rigorosamente a prmeira lei de Morphe, caiu com a manteiga para baixo, ou melhor com as perninhas para cima.
A naufraga ortoptera se debatia tentando se virar para uma posição mais comoda e menos ridicula, sem obter sucesso. Entao ele resolveu interfirir em favor do inseto e procurando algo para desvira-la encontrou um sabonete já gasto pela rotina de tantos banhos.
E fazendo uso de tão escorregadio objeto de salvamento tentou fazer dele uma alavanca, mas era liso demais, tentou por outro lado, por outro e outro e tentou de varias outras formas e só depois de quase dois minutos e quando já suava conseguiu salva-la.
A barata, sem a menor cerimonia ou gesto algum de agradecimento, foi se mandando meio tonta ainda e escalou a parede. Ele sentiu-se na obrigação de revelar ao inseto o perigo iminente que corria.
-Agora que está a salvo dê o fora, pois minha mãe detesta baratas.
Enrolou-se entao na toalha e saindo do banheiro deu de cara com sua mãe que ainda estava ali com uma cara de quem havia sido descaradamente boicotada.
Quando entrou no quarto ouviu:
-Uma barata!
E em seguida o chinelo estalando na parede.