DE CÓCCIX RACHADO!

Há dias atrás , postei aqui no recanto um texto sobre um fato da minha infância , ocorrido no ônibus escolar do Seu José.

Aquele cenário foi palco de histórias incríveis e eu jamais saberia que anos, muitos anos depois, eu as estaria tansladando para um espaço literário.

Mas a vida escreve histórias e cabe a nós recontá-las sempre com muito humor.

E foi assim que certo dia, como sempre ocorria, resolvi desafiar pela enésima vez as ordens da dona Leonor, aquela senhora tão carinhosa, que de cada um de nós cuidava com atenção para que, dentro daquele coletivo, tudo corresse nos "conformes" ; e assim chegássemos a salvos em nossos lares.

Tarefa difícil aquela da dona Leonor!

Naquela época não havia cintos de segurança nos ônibus ou se havia, não eram obrigatórios.

Mas uma regra era inquebrantável: Ninguém poderia ser transportado em pé.

Assim, eu arranjei um jeitinho inusitado de ser a copilota do seu José, o motorista.

Naquele ônibus havia a cadeira do piloto bem pequenina, cuja altura do banco era regulável por uma manivela, espécie duma roldana que ficava atrás do banco do motorista...como se fosse um "rabinho de gato" extensivo à poltrona do seu José.

E eu resolvia sempre viajar ali, em pé, segurando no encosto da cadeira, pois eu era a única criança que cabia naquele espaço; e acredito que o motorista pouco me enxergava porque eu era menor que a altura do seu banco. E acho que continuo a ser...

Às vezes, via que ele mirava pelo retrovisor, e se me via, fingia que não, pois jamais me pediu para que eu saísse de lá.

Mas a dona Leonor, carinhosamente me pegava pelas orelhas e me recolocava no meu banco.

-Menina, chega, vê se sossega, é muito perigoso aquele local, e você vai acabar rachando a cabeça!

Mas o perigo compensava!

Era mágico ficar ali atrás do seu José e olhar as avenidas, como se fosse eu a dirigir com oito anos de idade...aquela era a hora mais divertida da escola...

Mas certa vez, não recordo o que ocorreu antes, só me lembro que depois duma freada, me desequilibrei e caí sentada...aonde? Exatamente sobre aquela manivela estrategicamente colocada ali próxima ao chão.

A dona Leonor estava coberta de razão!

Mas não foi a cabeça que eu rachei!

Fiquei verde.

Quase perdi os sentidos. Doeu muito!

Lembro-me que a dor foi tão grande que fiquei zonza, com as "vistas' escurecidas e fui de "orelhas baixas" , claudicando, procurar o meu banquinho, sem as broncas da dona Leonor, que naquele dia tinha me esquecido.

Mas não tardou a se lembrar!

E quem disse que eu conseguia sentar?

Então levantei! Foi aí que ela me pegou em pé.

-Senta aí, vamos logo, disse ela me fincando com força na cadeira...mal sabendo que meu bum -bum estava rachado...

Engoli seco e nem me mexi dalí.

Não contei para ninguém, nem em casa.

Dias depois, minha mãe me viu mancando, sem conseguir sentar, e daí não teve jeito.

Contei o ocorrido, sob a bronca três vezes maior que a da Dona Leonor.

-Êta danação, tá vendo, não fica quieta, acabou por rachar a B....

Hoje, retrospectivamente, acredito mesmo que fraturei o cóccix.

Sei disso pelo nível daquele impacto e porque ,até hoje , basta esfriar o clima que ele sempre se lembra que foi contundido.

A coccigodinia residual deve ter sido o modo que a natureza encontrou de se vingar da minha extrema danação de criança.

E de me ensinar que quebrar regras pode deveras nos deixar sequelados.