Uma mulher de coragem

Hoje acordei cedo, fui fazer aquela caminhada ecológica que só MG consegue proporcionar, os meus cachorros, um lavrador branco e uma cadela policial me acompanharam. De início vi um filhote, já bem grande, de onça, animal que há muito tempo não se via por essas bandas, não vi a mãe, mas aposto que ela me viu de longe, mas sem preocupação de defender o filhote, pois esse já estava no tamanho de se virar sozinho, só não se aproximou devido à companhia dos dois cachorros. Andei uns 5 km em direção há um lago que existe aqui na fazenda Jobim, quando cheguei lá descansei em baixo de uma mangueira, fiquei umas duas horas naquela sombra gostosa, lembrei da minha infância, da minha adolescência, eu conhecia todo aquele terreno, andava por aquelas cercanias de olhos vendados se fosse preciso. Lembro que um dia peguei meu cavalo e saí procurando um boi fujão, fiquei três dias fora, como eu gostava de passear por essas paragens.

Teve um dia que passei em uma fazenda aqui vizinho a fazenda Jobim, tomei um café, toquei uma moda de viola e vi helena, uma mulher que até hoje não esqueço, alias, toda vez que me lembro dela tiro meu chapéu e me curvo em respeito a uma lutadora que até hoje não encontrei igual. Nós tínhamos 20 anos quando aconteceu uma coisa inesperada naquela mata mineira; três assaltantes de banco, logo depois de ter assaltado a agência da cidade fugiram em direção a mata, mas nessa fuga fizeram toda a família de Helena como refém, quando a polícia chegou e começou a negociar houve a soltura de quase todos os membros da família, mas ainda restavam dois irmãos, e ela propôs aos bandidos que soltassem seus irmãos,em troca disso, ela os tiraria daquele lugar, ela conhecia como ninguém aquelas paragens. Os bandidos concordaram, soltaram seus irmãos, ela manteve a palavra, conseguiu tirar os bandidos daquele lugar, mas logo que eles se viram livres da polícia a estupraram e em seguida a mataram com um tiro em sua cabeça. Quando nós encontramos o corpo sentimos uma espécie de revolta, eu mesmo não voltei para casa, naquele mesmo momento eu peguei meu cavalo e fui procurar pista de para onde os bandidos, pois a única esperança da polícia pegar os bandidos era com a ajuda daqueles que conheciam a região, demorou quatro dias para eu e meu compadre José acharmos algo: uma bolsa com as iniciais do Banco roubado, não demorou muito para encontrar os bandidos, pois eles estavam em outra fazenda uns 50KM da cidade. Quando descobrimos o esconderijo chorei de alegria, o fato de saber que a justiça estava para ser feita me encheu de esperança, meu compadre ficou de escondido de longe, enquanto eu voltava à cidade mais próxima para avisar a polícia.

Naquele mesmo dia prenderam os bandidos. Resta-me agora muita saudade de Helena, de suas histórias, das cantigas de viola. Ela deixou muitas amizades.