O menino da manjedoura
Era grande o esforço para que o presépio ficasse pronto antes daquele anoitecer. E todo mês de dezembro era sempre assim: correria, arrumação e cuidado. Tudo envolto no mais sublime gesto cristão.
— Cuidado com essa caixa! – Era como tia Sinhá não cansava de avisar a quem se aproximava das embalagens dos santos que, encaixotados, deveriam ser por último colocados no presépio.
Já estava tudo quase pronto, e a criançada posta à porta mostrava-se ansiosa para entrar e ver aquele espetáculo luzente de todos os meus saudosos Natais.
Tia Sinhá ficava orgulhosíssima com a visita de quase todos os moradores da cidadela em sua casa. O seu presépio era o mais famoso e o mais requintado do lugar, daí a visitação popular. Nele havia inúmeros adereços em miniatura, tais como: cachoeira, rio, pastagem, flores, montanhas, animais e uma gruta onde se colocava o cenário representativo do nascimento do menino Jesus.
Eu me impressionava ao ver aquela imagem do Menino na manjedoura; cercado por sua mãe, seu pai, três reis e por alguns animais, e me questionava:
— Porque Ele nasceu assim , tão pobre?
Hoje eu entendo: todos nascemos nus e, obviamente, pobres. E Ele não foi exceção.