O Beija Flor

O Beija Flor

Estava já chegando ao portal do condomínio, quando o celular tocou, Pedro estava esbaforido:

- Tem um beija-flor dentro do seu quarto mãe!

- Calma Pepe, to chegando, deixa o bichinho quieto ai.

Num instante estávamos dentro do quarto, o passarinho murchinho no cantinho da parede, estava imóvel. Apagamos a luz para não ofuscá-lo e colocamos o bichinho numa cestinha de vime coberta com uma leve camiseta, na varanda.

Toda hora ia la ver a avezinha. Procurei por todos os cantos, por onde teria entrado em casa. Não entendi até agora o mistério, todas as janelas estavam fechadas, a casa ficou sozinha o dia todo... Não sei, deixa pra lá.

Cantamos uma canção de ninar, ela, já enfraquecida colocou uma fina lingua para fora e se remexeu dolorida. Não esqueci o beija-flor de noite, levantei um monte de vezes para vê-lo. Fiquei pensando se não era uma mãezinha perdida com saudade de casa e precisando voltar.

Amanheceu durinho o beija-flor, deve ter morrido depois das 4 da matina, quando fui xeretar pela última vez... Sai tão triste para caminhar de manhãzinha, nem tirei ele do lugar, tava um frio.

Hj não vi passarinho pelo caminho, quando sai, estava um dia tão triste. Fiquei pensando: será que tem céu pra beija-flor? todo dia tem um monte de beija flor que morre e ninguem sabe, ninguem viu! Será que era ele que eu via lá no pé de goiaba... Andei rápido, o percurso hoje foi legal, não tinha movimento na rua porque sai muito cedo. Qdo estava chegando em casa: SURPRESA! tinha um monte de passarinho sobre a casa voando, até pensei que o beija-flor tinha voltado, mas não era ele não, tinham pardais, outros beija-flores e outros passarinhos que eu não sei o nome. Fui lá no quintal ver a água deles, tava cheia de abelha abelhuda. Você sabia que os beija-flores brigam com os pardais pela água mas tem medo das abelhas?

Fui ver a Rita e um marronzinho tava fora da casinha. Gritei, gritei, gritei e gritei. A Rita ficou me olhando com aqueles olhos redondos e grandes, a vizinha deve ter achado que eu sou maluca e a gritaria ecoou pela casa vazia... "bebê de mamãe, bebê de mamãe"... riso.

Jogaram o beija-flor fora, ensacado, ainda bem que eu não vi. O marronzinho ficou lá se arrastando e gemendo, a Rita continuou comendo a ração, os outros três estavam encolhidos dentro da casinha, soltei o Jack e a Nina na frente da casa para não pertubarem o berçário, as abelhas continuaram filando a água doce dos beija-flores, os passarinhos ficaram voando pra lá e pra cá, a cachorrada da vizinhança ficou latindo... e eu vim trabalhar.

Ainda tô pensando no beija-flor. Quando fui dormir vi em cima do rádio-relógio, uma chama violeta que ficava dançando. Olhei um monte de vezes, não sei se era ilusão de ótica, mas estava lá, na minha imaginação, quem sabe. Será que era o beija-flor dizendo adeus? Não sei.

Um dia vou encontrar o beija-flor e vou perguntar se ele ta legal.

13/03/08