NOTICIÁRIO BANDIDO
Algumas notícias não deveriam jamais chegar ao nosso conhecimento. Refiro-me em particular, àquelas que servem somente para estimular ainda mais os patológicos cérebros narcisistas dos foras-da-lei, por seus condenáveis atos, registrados com destaque, em primeira página.
A cada dia que passa a mídia fornece novas receitas prontas de sutis formas de se invadir as fronteiras do bem alheio e do progressivo e já visível descrédito total do homem no homem. Com raras exceções, a solidariedade saiu da prática e somente ocorre nos palanques discursivos. Vemos com pesar, hoje, somente os incautos confiarem na própria sombra.
Maus políticos, gananciosos comerciantes e larápios de todas as raças e credos, buscam incessantemente o mapa da mina do chamado crime perfeito. Alguns criminosos chegam bem próximos dessa condição. Acabam se denunciando em frágeis e infantis detalhes.
All day, pela manhã, milhares de pessoas já estão com seus ouvidos ligados em rádios de notícias policiais. Outros, em casa ou lanchonetes, fazem sua primeira refeição com os olhos ávidos nas largas manchetes de múltiplos crimes, transcritos em jornais de péssima qualidade técnica e literária. Os ledores dessas aberrações diárias curtem este tipo de informação com um prazer mórbido. Uma espécie de prazer típico de um sadomasoquista. Depois da leitura, saem num frenético corre-corre em busca de novidades na área de dispositivos de segurança. A maioria da assustada população vive hoje, preocupada em construir fortes abrigos para se proteger. Alarmes, grades e portões de ferro, verdadeiras prisões domésticas. Nas ruas, marginais encorajados pelo uso de substâncias psicotrópicas, agem impunemente, em plena luz do dia. Agridem pessoas idosas e mulheres indefesas. Sabem que podem contar com a indiferença do transeunte que passa ao lado e vê tudo calado ou de poder contar com a ajuda de alguns policiais corruptos que estarão na retaguarda, no caso de algo dar errado.
Na verdade está em alta a filosofia dos três macaquinhos: mãos na boca, mãos nos ouvidos e mãos nos olhos. Nós outros, assistimos impassíveis, crimes praticados por analfabetos e intelectuais. Brancos e negros. Homens e mulheres. Adultos e pasmem, crianças. De repente tomamos conhecimento de que uma experiente delegada de polícia da cidade do Rio de Janeiro confessa sua impotência interrogatória, diante de uma adolescente de apenas treze anos que participou juntamente com mais de uma dezena de traficantes, do incêndio do ônibus 350 (Passeio-Irajá) no qual morreram carbonizadas cinco pessoas, catorze ficaram feridas (30 novembro 2005 – proximidade do Natal). Na hora do depoimento, a delegada ficou perplexa com a ausência de sentimento da menina com relação ao seu feito. Segundo o que foi publicado no jornal O Globo, esta barbárie foi uma espécie de represália dos traficantes por extorsões da polícia.
Certamente essa pandemia social tem um nome que é conhecido por todos, usadas por muitos e de importância subdimensionada pela nação. DROGAS. O rentável comércio ilegal de drogas, promovido por uma rede estrategista, que se aproxima em muito, do singular crime perfeito, o NARCOTRÁFICO. Enquanto não houver um MUTIRÃO SOCIAL de prevenção e eficaz combate ao USO INDEVIDO DE DROGAS, estaremos contribuindo com os noticiários que focalizam os marginais que trucidam quem quer que seja. Esses agem friamente movidos pelo combustível chamado DROGAS ILÍCITAS.
Tentando fazer a diferença, sentado à sombra da frágil árvore das “mudanças-por-um-mundo-melhor-começando-por-mim”, o poeta rabisca em uma folha de papel, alguns pensamentos utópicos:
COVARDIA
Aquietar-se,
Não ouvir,
Não ver,
Coloca-me em cumplicidade
com os autores
desse silêncio, dessa surdez,
dessa cegueira.
...
segunda-feira, 5 de dezembro de 2005.