NEGO A SOLIDÃO
Deveras, e como! Se existe algo que odeio visceralmente, pode ter certeza de que é a solidão com sua insuportável melancolia deprimente. Pela tristeza incongruente de seu negrume, por causa das intensas lágrimas que faz gerar ao longo de toda a existência humana, devido a melancolia de sua titânica amargura, a ingente dor subseqüente e pelo seu deprimente poder de proporcionar agonia. É evidente que a solidão é a companheira fria da saudade e da ingratidão. Vai apertando o peito como um torno elevado à potência máxima, fazendo doer e doer. As lágrimas são a conseqüência inevitável a seguir, o resultado nada surpreendente pois aguardado. Estar só é perder-se da jornada que prossegue, é atrasar-se enquanto os semelhantes caminham a largas passadas em busca da felicidade que nunca encontram. Porque ser feliz não é simplesmente encontrar a felicidade desejada, mas ter a meta de procurá-la ainda que a tenha na mão enquanto os pássaros voam. Quando alguém acredita ter descoberto, enfim, a tão badalada e ansiada felicidade, certamente não é nem ficará feliz. O melhor de tudo é tão-somente sair à sua procura à medida que sonha. Mas quem mergulhou nas profundezas da solidão retirou de seu acervo a palavra felicidade, nem mesmo consegue lembrar de sua remota existência, quiçá jamais se atreveu a ter por ela uma nesga de ambição. O motivo é verdadeiramente banal: ninguém consegue brincar de ser feliz sem a companhia de alguém para amar, sem o sorriso calmante de quem deixou tudo para dividir seus sentimentos e permanecer na sua presença. É próprio do ser humano gostar do semelhante, precisar dele e ouvir sua voz pensando em música, em acordes afinados, em farfalhar de folhas e no remexer de pétalas se entreabrindo nalgum jardim florido. Daí, então, o sofrimento do solitário