AMOR MADURO
Leio tantas crônicas e poesias sobre o amor que resolvi também enveredar para essa trincheira onde as pessoas escondem suas liberalidades e muitas vezes as suas lamúrias em razão de um amor mal correspondido. Geralmente as doses desenfreadas de amor que são citadas nas poesias, sempre com finais denotando um ego corroído pela dor me leva à reflexão de como algumas pessoas são desprovidas de sentimento próprio, deixando-se levar por paixões ou desamores que vão desde o martírio até o êxtase por uma procura inconseqüente por quem não lhe dá a mínima.
Creio que tal desatino ou tal procura se deve – na maioria das vezes – ao alvoroço do organismo jovem, levado pela ebulição dos hormônios, que exigem uma performance constante na vida sentimental a ponto de despertar para paixões e amores mal resolvidos, em razão até da falta de maturidade, pois o ser humano tem a tendência de alvorar-se por caminhos proibidos que muitas vezes fogem ao bom senso, mas que a própria curiosidade aguça a tal ponto da pessoa ver-se envolvida de forma absoluta, como se fossem braços múltiplos que a impedissem de prosseguir por um caminho menos lamoso.
Costumo dizer que amor maduro é amor por si próprio. Para amarmos outra pessoa com o verdadeiro sentido da palavra, temos que amarmos em primeiro lugar a nós mesmos. As pessoas que não levam em consideração essa premissa dificilmente poderão corresponder ao amor de outra pessoa na mesma proporção ou com a mesma intensidade. Isto não quer dizer que a pessoa seja egoísta. Ocorre que a essência do ser humano como pessoa individualizada está jungida à sua própria significância para si mesmo, ou seja, a pessoa tem que se gostar, como elemento de sua defesa própria, para depois de satisfeita essa condição, aí sim, sair à procura de outro ser que a complete. O próprio direito reconhece essa essência ao inserir no Código Penal a excludente da legítima defesa própria e o estado de necessidade, onde são excluídos de crime quem age (praticando ofensa a outrem) como forma de defender sua própria pessoa.
Assim, todas as pessoas humanas sofreriam menos se antes de se entregar perdidamente por alguém, tivesse um pouco de amor próprio, corrigindo seu desejo com doses de auto-defesa, reconhecendo que alguém não nos querer como nós queremos. É imperioso reconhecer que em alguns casos as pessoas ficam reféns de outras em nome do coração. Isso também é normal, pois como diz o adágio popular: “ninguém é dono do coração”. Ocorre que algumas pessoas têm mais dificuldades que as outras para sair de um romance mal-sucedido. Isso se explica pela ausência desse elemento de caráter pessoal, pois a pessoa não é capaz de policiar a sua posição de submissa na relação e assim não se importa se alguém não a considera como deveria.
É verdade que a convivência e a idade da pessoa ajudam a reconhecer essa natureza mais endurecida no contexto do sentimento. Mas, existem também pessoas que mesmo depois de maduras continuam a enlevar-se por romances que só lhe fazem mal. Nesse caso, penso que a pessoa ainda não aprendeu com toda a sua experiência, pois quando esta resolver sacudir a poeira e aprender a gostar de si mesma, certamente ingressará num outro estágio de sua vida.
O amor maduro, a meu ver, não envolve apenas a paixão. Este sentimento arrebatador é típico dos jovens. A pessoa madura que experimenta um amor seguro e abrangente no contexto das relações, sobrevive às intempéries da relação. Isso é que falta para muitos, na permanência de um casamento, por exemplo, pois certamente a paixão se verá apagada no decorrer dos anos, mas sobreviverá como uma sombra que sempre existirá, deixando marcas que reaparecerá em alguns momentos da relação. O fato é que deixará de existir a intensidade, mas ao mesmo tempo será construído a afinidade, a cumplicidade, a respeito mútuo, o profundo conhecimento dos gostos e das vontades, a plenitude da confiança, a paz mútua interior, a responsabilidade do lar, o amor dos filhos, o amor pelo próximo, a fraternidade, a solidariedade, enfim, um casal que possui na relação o amor maduro, perdurará na relação enquanto a vida o permitir.