*AMOR*
Emoções (I)
Amor
Falar em emoções é desvendar a alma, pondo a nu suas raizes, seus versos, seus reversos, suas loucuras, seus desejos. Emoções essas que nos levam aos céus e que nos lançam ao chão, tamanhas suas diretrizes, seus propósitos... Mas é como tocar no mais puro anseio de nossas almas, retalhando-as, pulverizando-as, levando suas células ao mais aprumado teor de análise, por excelência.
Emoções são máscaras que vestimos para compormos nosso quadro sentimental, nossas carências, nossos sonhares, nossas ilusões. Artífices do amor, de anseios, saudades, lembranças, devaneios, um mundo de envolvimentos que geram nossas almas, plenas e, às vezes, tão reticentes... Abóbadas espelhadas que nos conduzem ao estado de letargia infinitesimal, em ondas marcantes, envolventes, capciosas mesmo, mas certeiras em suas concepções, no afã da conquista e da ansiedade, da loucura e da verdade.
_Amor, nosso ápice de enternecimentos, nossa meta que embriaga nossos sonhos, locupleta nossos devaneios, atordoa nossos corações. fazendo-nos buscá-lo com ansiedade, com paixão, carinho e sofreguidão. Anteparo na solidão, couraça nos sentimentos, veludo da ilusão, capacho da sedução. Ao buscá-lo, rimos de nós mesmas em nos vermos tão frágeis, tão dependentes, tão carentes, tão dementes...
E saimos por aí afora, tentando encontrá-lo, esmagá-lo contra o peito, seduzí-lo, atirando-nos cegamente para podermos nos aprumar, nos deleitar, nos completar, pois é como a mão que afaga o carinho, o punhal que transfixa nossos soberbos desejos de ansiedade, calor e que nos deixa sôfregas de paixão, de desvario, de ilusão. Pois não há punhal mais afunilado e mortal do desejo, da ansiedade do beijo, das mãos que acariciam, dos lábios que murmuram frases encantadas de mágicos suspiros de calor, de promessas, de buscas, de amor...
Não podemos viver sem amor. É tornarmo-nos invertebrados de alma, petrificados de pensamentos, desajuizarmo-nos de vida, de sonhares, de futuros, de amares. E, em cada procura, cada achado, cada definição, cada premeditação, cada pretexto é como o vapor que nos impulsiona pra frente, mesmo que caiamos adiante, rastejando, sofrendo, mas em cada queda, cada dúvida logo se enraizará e frutificará nos haustos da ilusão, dando-nos colheita fértil de sonhos, de felicidades, de amparo dos ensejos desejados.
Ah! O amor tão decantado, tão desejado, tão cobiçado, tão pusilânime às vezes, mas tão envolvente, nos beneplácitos abraços de carinho. Quantas vezes nos surpreendemos amando. Quantos sustos nos estremecemos, pois o amor não tem idade, sexo, coerências, apenas existe, até nas surprêsas, nos descaminhos, nas dúvidas, entretanto surge e nada podemos fazer para comandá-lo
O amor avilta-nos, amordaça-nos carinhosamente, mas qual sedução, tais queixumes nos arrasta sem nada perguntar, nada indagar, nada exigir, apenas aceitar sua doce atração nos afagos, nos carinhos. Não podemos ficar incólumes à tentação de amar, de se entregar, pois amar é viver, mesmo sofrer, mas recompensar a solidão de um coração, a partilhar nossos sonhos, nossa companhia. Gastaria laudas e laudas falando de amor, mesmo sendo repetitiva, é emoção, é a nitroglicerina da nossa alma que dá sentido à nossa vida, de inverossímeis atitudes, de estranhos comportamentos, a vida se esvai sem ele, sem sua companhia , seu estímulo e seus caprichos... Amordace-me, ponhem bridas na minha boca, mas não calarei as maravilhosas dádivas de ser amor, ter amor, enveredando pelos caminhos mágicos da sua sedução.
Não devemos nos envergonhar de sentir amor. De rechear nossos corações de tudo que a gente possa desejar do mais sublime sentimento que rege nossas vidas. Amemos o amor, nem que com isso tenhamos que calar, que chorar nossos desenganos.
Acarinhemos o amor, nas manhãs claras, ensolaradas, floridas com perfumes embriagadores, observando a passarada em vôos deslumbrantes, cadenciadas asas a se movimentarem em meneios sonhares de pura liberdade e avassaladoras ondas de magias e encantamentos.
Amemos o amor, nas noites enluaradas, em seus luares esparramados, respingados de emoção e beleza. Amemos o amor nas coisas simples da vida, nas brandas e tépidas brisas que vêm beijar nossas faces, balançar nossos cabelos e afagar nossos corações.
Amemos o que nos foi ensinado, o que nos foi dado, o amor mostrado em lições divinas dos céus, da terra, do paraíso e do mistério que é a nossa vida...
Maria Myriam Freire Peres
Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2004