Crônica de uma baita segunda-feira
De Edson Gonçalves Ferreira
Para Maria José Santos Guimarães, Sônia Ortega, Zélia Nicolodi
Os programas de televisão que muita gente jura que não vê, eu
adoro. Afinal, a cultura popular também faz falta. Agora, Hebe Camargo vai completar quase 80 anos. Adélia Prado, quando fez 50 anos, escreveu que meio século não aceitasse, era demais pra uma mulher, não sei não. Quase dois séculos é pouco ou é muito? Acho que para gente tão inteligente assim, com esse jogo de cintura com a Imprensa que não é benta, só pode ser luxo. O que eu não agüento é ouvir coisas esquisitas como um jovem, hoje, na rua, perguntando onde morava o Castro Alves!
Eu pareci que não ouvi, mas ouvi... Depois, ele ainda disse que estava fazendo um trabalho de escola. Precisa entrevistar o homem. Assim, eu me consolo quando, ao estudar as figuras de linguagem, pergunto quem é o rei das selvas e alguém responde que é o tarzan, pode? Que ódio! Dá vontade de xingar um palavrão, mas depois eu penso no Planalto e nas bobagens ditas lá em cima daqueles tapetões.
E hoje é segunda-feira, somente segunda-feira, ainda temos uma semana para a frente... O tempo corre para todos nós e é por isso que o Coelho Maluco olha sempre no relógio e diz que está com pressa. Eu também. Não sei para que estou com pressa, mas estou. Talvez, eu esteja com pressa, porque preciso cumprir horário até hoje. Segunda-feira é um dia da rotina. A gente se acostuma. Vira rito.
Ritos são necessários não foi Saint-ex que disse isso no livro "O Pequeno Príncipe"? Foi sim. A raposa fala com o Pequeno Príncipe que: "Se tu vens às 4 horas, desde as 3 horas, começarei a ser feliz..."
Amanhã, tenho um coquetel para ir e, depois, vou trabalhar para pagar as contas, para comer, vestir, morar melhor e outras coisitas mais que não conto para vocês não!... Que coisa! Chico Buarque já brincou com isso: "Pedro Pedreiro está sempre esperando, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o dia de voltar pro Norte, esperança aflita, bendita, infinita de um apito de um trem..." Mais ou menos isso. Todos nós estamos esperando e, na espera, alguns sonham, alguns trabalham, alguns escrevem e outros viajam na maionese. Não pensem que estou viajando na maionese, não estou não!
Por ser segunda-feira, resolvi escrever esta crônica assim, destemperada como quem está no aeroporto -- ah, pensaram que eu ia falar em estação, só porque eu sou mineiro, não é mesmo? -- não é como quem está no aeroporto e anunciam que todos os vôos foram cancelados. Aí a pessoa fica ali, esperando, esperando, esperando... Não tem gente que vive assim? Eu não, sigo o conselho da ministra e faço um relaxamento, mas não viro os olhos, viu? A ministra foi tão "desinfeliz", num foi?
Divinópolis, 10.03.08