EM DEFESA DA POESIA D'ALMA ( REVISADO)

Existe uma coisa interessante nessa dualidade de visões, ou nessa divisão entre o crítico e o poeta, o artista ...

Por algum motivo, que não compreendo bem qual seja, os críticos são, em boa parte dos casos historiadores, pesquisadores, cultos e interessados.

Isso parece ótimo, afinal é importante que se tenha como alicerçar, fundamentar uma opinião.

Ocorre no entanto que, ao se prenderem ao passado, criarem ou reproduzirem seus ícones de qualquer área, ao rotularem qualquer tipo de arte segundo o seu parâmetro, visão e gosto pessoal ( seja este pessoal ou grupal), o crítico acaba por

"perder-se" em comparações ou divagações...

Para não generalizar por demais a questão e falar apenas do que conheço,vou exemplificar não o crítico, mas a questão da poesia...e o exemplo que melhor conheço sou eu mesmo.

Escrevo poesias por que gosto de poetar livremente, brinco com vários modelos poéticos, do versolibrismo aos sonetos, passando por cordéis, rondeis, glosas, poetrix, etc. Digo brinco, pois, embora goste dos estilos, pesquise, olhe, imite a forma,

leia algo aqui e acolá, dos mestres aos contemporâneos, não sei ficar preso ao hermético.

Contar sílabas, ver quais são as átonas ou tônicas, escrever, reescrever, desfazer, ou como dizem alguns transpirar pela obra poética, entalhando-a, desbastando-a, ou, como gostam de dizer ( deve ser moda) burilá-la ,tornando-a mais parecida com a de grandes mestres ou pseudo-mestres, não me atrai tanto assim.

Se sou bom ou mau poeta, é, ao fim ao cabo,o leitor que há de concluir, e isso de acordo com o momento em que meu trabalho lhe caia nas mãos.

Gostam muito de citar mestres como Camões, Pessoa, Florbela,Vinicius, Augusto dos Anjos, Bilac e tantos outros...ótimo, acho-os excelentes dentro de sua época e contexto, mas de minha parte quero ser apenas e tão somente o Jorge Linhaça.

O que acho "engraçado" é que alguns críticos consideram que a poesia não deva ser um confessionário íntimo do autor e citam esses grandes poetas do passado.

Oras pílulas, Camões, por exemplo, era um soldado, escreveu os lusíadas como uma obra patriótica, a contar das conquistas e formação do povo português, dentro de sua visão como soldado e patriota;de acordo com o sentimento lusitano e sanguíneo que lhe acometia a alma... mais confessionário que isto apenas os seus sonetos de amor. Fernando Pessoa cantava em versos suas dores, amores e vivências da sua terra.

Florbela choramingava suas desilusões e desencantos em lindos sonetos; Augusto é mais conhecido pela sua visão ácida e pessimista da vida; Vinicius era um boêmio, eternamente apaixonado: cantava suas musas nas mesas dos bares em guardanapos de papel...alguém pode imagina-lo a amassar dúzias de guardanapos em busca da métrica perfeita?

Todos esses foram grandes poetas, a confessar o foro mais íntimo de suas almas....

A questão é : De onde provinha a sua genialidade? Caíram simplesmente no gosto de uma geração que via refletida em seus versos a face de sua própria alma?

Claro que, em dado momento, caíram no gosto dos críticos. Algum mecenas, profissional ou não, tratou de divulgar seus versos boca a boca até chegar ao ponto de que se tornou"chic" declamar versos de cada um deles.

Ah... e os críticos? Bem, esses para não perder o bonde da história, trataram logo de esmiuçar suas obras, buscar nelas aquele diferencial que pudesse embasar uma erudição tão necessária que os tornassem ( aos críticos) descobridores da América. Essa necessidade de auto-aceitação, de parâmetros poéticos, de ritmo, versificação, métrica, etc , que muitas vezes se sobrepõe à poesia, ou ao poema, como queiram, tornando uma obra feita com a simplicidade do coração em um intrincado labirinto de "ismos" e gramática que muitas vezes cria nos jovens (e adultos também) uma ojeriza tal pela poesia, que, em nosso país, os livros de poemas , via de regra, encalhem nas prateleiras.

Na contramão dos críticos, continuam os poetas a poetar seus sentimentos, cada qual com seu estilo, rebuscado ou simplório, metrificado ou não,sisudo ou engraçado...

A internet é um campo por demais fértil nesse aspecto.

O escritor busca leitores, não importa se na mídia impressa ou não.A telinha do monitor do computador se transforma em uma vitrine de sentimentos, e transformada que é nessa vitrine, permite que os mais variados tipos de leitor acompanhem as nossas peripécias poéticas.

Serão elas reais ou imaginárias? isso cabe a cada leitor julgar, pois embora a opinião dos críticos, com certeza seja uma alavanca para se ganhar prestígio no mercado editorial, tirando das gavetas os manuscritos ( poéticos ou não), o julgamento final e individualizado cabe a cada leitor e esse julgamento só pode ser isento se as palavras lhe chegarem à alma, mais do que ao departamento de nuances técnicas que o poema abarca ou não em seu escopo.

Continuo portanto a dizer, poesia pode ser classificada em dois grupos: com alma e sem alma.

De que adianta escrever textos tecnicamente perfeitos,se, no frigir dos ovos, a simplicidade e a autenticidade do autor, jazem mutiladas na hermeticidade do texto?

Claro que um rondel é um rondel, um soneto é um soneto, um poetrix é um poetrix e assim por diante, e claro que quando se opta por seguir determinado poético é necessário obedecer ao menos um mínimo de regras...mas se algo se parece com um soneto, e não leva, pelo autor, essa denominação, qual o problema de escrever ele em 14 versos a sue emoção ? Nenhum...mas se intitular a sua poesia/poema como soneto, há que se respeitar as regras ( embora isso seja também controverso, já existiu quem sonetasse com versos brancos, sonetos monossilábicos etc...)

Mas, ao fim ao cabo, entre a forma perfeita e a emoção perfeita, eu prefiro me apegar à segunda, pois poesia sem emoção é , para mim, apenas um intrincado labirinto de técnicas e formatos. Se é possivel aliar ambos ( técnica e emoção) melhor ainda, pois, assim, agradam-se gregos e troianos.