O observador
Eu estava em um ponto de ônibus, a noite, quando vi duas pessoas discutindo. Era um casal, falavam sobre como magoaram um ao outro. A garota deixou ele falar, sobre todas a atitudes que o magoaram, suas dores e sobre como se sentia. O rapaz falou sobre como ela sempre o criticava, o julgava, era grossa e as vezes o ofendia. A moça profundamente abalada, ficou com os olhos cheio de lágrimas várias vezes, estava escrito em sua face o quanto ela o amava, e o quanto estava triste por tê-lo magoado tanto. Quando acabou ele olhou para ela e disse: “Consegue perceber, como não damos certo, somos muito diferentes”. Ela olhou para ele, com toda calma do mundo e disse: “ Agora é minha vez, de falar”. Ela disse o quanto se sentia mal, como ele a tratava como um objeto usado apenas para obter prazer, disse como ele havia sido grosso e frio por tantas vezes, e como a julgou quando ela precisava de seu apoio. O rapaz ao invés de ouvir, começou a atacar, e não se sensibilizou com os sentimentos dela, permaneceu estático olhando, como se ela tivesse a culpa, a máxima culpa e não tivesse o direito de falar nada, ou de querer nada, as únicas palavras que pronunciou foram: “ Esse é o meu jeito, eu sou assim, e se disse essas coisas não foi para que você mudasse e sim para entender por que não damos certo”, “Eu sei que muitas vezes exagerei, consigo reconhecer isso, e não me isento da responsabilidade e não o farei mais, e você senta ai, e diz que não se importa com o fato de Ter me ferido. Que é seu jeito pronto e acabou”, seus olhos marejaram novamente, e a dor transpareceu novamente, ele preferiu não ver. Ela disse que não o magoaria mais e os dois poderiam ser amigos, ele nada respondeu. Desviaram o assunto e começaram a falar sobre outras coisas. O ônibus dele passou e ele se foi. A moça foi seguindo em direção a sua casa, vi o quanto abalada ela estava, fui até ela e a abracei, uma lágrima desceu pelo seu rosto. Foi quando ela olhou para mim e disse: “Obrigada por estar ao meu lado, isso que aconteceu agora, já é passado, as vezes precisamos tirar os óculos para poder enxergar melhor a pessoa, e além disso somente assim percebemos que não somos amados da mesma forma como amamos, eu vi todos os defeitos dele, e não me importei, amei mesmo assim, quanto ele tudo que fez foi olhar meus defeitos, me julgar, tratou-me como um objeto, como não sou uma estatua de barro feita aos moldes dele, me rejeita, isso só prova que ele nunca amou e não sabe amar. Agradeço a ele pois, foi quem me ensinou a faze-lo, sei, ainda não experimentei o amor por inteiro, mias valeu essa parcela.
Tem sempre alguém nos observando, há sempre alguém olhando por nós, para evitar que mais uma vez caiamos, na ilusão de que sofrer é bom, eu estava ao lado da garota, como sempre estive, em todos os momentos da vida dela, desde seu nascimento, e me senti orgulhoso ao vê-la sorrir, depois de Ter sido julgada e condenada, senti sua sinceridade e vi sua dor partindo, vi em seus olhos uma chama de esperança e amor, vi em seus olhos a vida e um suas mãos um milagre. E nós dois choramos de alegria juntos, choramos pois pela primeira vez ela estava viva.