Manhã de sol e acarajé

                          De repente era uma 
                          esplendorosa manhã de verão,
                          indecorosamente solar. 

                                Otto Lara Rasende



        Hoje, domingo, Salvador teve uma manhã que só pode ter sido obra de Oxalá.
        O sol brilhava em todos os cantos e recantos desse encanto de cidade. Esplendoroso!
        No céu, poucas nuvens; no mar, poucas ondas. O mar da Pituba mais parecia um gigantesco lago azul escuro.
        Quando escrevia esta página, ele mostrava-se sereno e convidativo.
        Mas, nem sempre ele é assim. Não o direi bravio como, por exemplo, o mar de Iracema, a lendária praia de Fortaleza.
        O mar da Pituba é bom pro banho. Mas a gente mergulha nele com redobrada cautela. É mar aberto
        Sob uma temperatura que se aproximava dos 30 graus, saí de casa para um ligeiro passeio pela orla, Fui a pé. Moro ao lado das ondas. 
        Minha orla vai da Pituba a Itapuã.
        Orla maravilhosa, mas literalmente abandonada pelos poderes públicos.
        É de fazer dó. 
        Além de depredada, a orla de Salvador está infestada de barracas imundas: uma agressão ao meio ambiente; um atentado a um dos locais mais bonitos e saudáveis da capital baiana.
        E ninguém é punido.
        A orla de Aracaju e a orla de Fortaleza, só para dar dois exemplos, deixam a orla soteropolitana no chulé.
        Uma pena.
        Os baianos que se prezam, sentem-se humilhados, ofendidos, envergonhados com o que fizeram com suas praias; dda cidade alta e da cidade baixa.
        Mas eu saíra de casa para me divertir e não para me aporrinhar. O fantástico dia de sol não comportava arrufos, xingamentos e impropérios.
       Era, sim, um convite ao lazer pleno. Hora de homenagear e curtir mais um caustico domingo da Quaresma. 
        Afinal, por aqui, o verão, como dizia Otto Lara Resende, "continua de caldeiras acesas".
        Fiz de conta que a orla de Salvador era a orla mais fascinante dos cinco continentes. Embora, nem precisasse tanto: bastava que ela fosse a mais bela do Brasil; bela como a Bahia.
 
               Debaixo de um solzão inclemente, saíra também pensando em comer um acarajé. Apesar dos pesares, na orla dessa cidade ainda é possivel degustar um bom acarajé e um excelente abará. 
              Aviso aos turistas: nunca peçam um acarajé quente. Este pedido leva as baianas a servirem o quitute dos deuses, carregando no molho de pimenta. 
       Esse molho, só os nascidos nesta linda terra o suportam sem chiar. Peçam acarajé com vatapá e camarão. Deixem o molho para depois. Certo?
      
 Depois de saborear dois acarajés e beber alguns copinhos da cerveja, voltei para casa perguntando por que esculhambaram tanto a orla de Salvador.
        Indignado, até desejei - Deus me perdoe - que acontecesse uma daquelas ressacas bem brabas, para obrigar os "donos de Salvador" a começarem tudo de novo... Axé!

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/03/2008
Reeditado em 02/02/2020
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