Hablas Español?
Dois meses separado, depois de um casamento turbulento onde as brigas por ciúme eram uma constante, Maurício estava adorando sua recém adquirida liberdade. E nem pestanejou quando seu grande amigo Gonçalves o convidou para visitá-lo na Jamaica. Negociou com o chefe a antecipação de uma parte de suas férias, limpou a poupança e resgatou o título de capitalização, para comprar a passagem.
Já no aeroporto, bem humorado e cheio de piadas para contar, enturmou-se rapidamente com um pequeno e animado grupo de rapazes que também ia para a terra do reggae. Assim, ao desembarcar no calor caribenho, resolveu passar a primeira noite em companhia dos novos amigos, antes de ir encontrar-se com Gonçalves.
Foram a um bar onde uma fumaça característica enevoava as vistas e o raciocínio. A um canto três homens muito negros e bonitos, com seus cabelos rastafari e roupas muito coloridas executavam um reggae antigo de Peter Tosh. Maurício estava extasiado com o ambiente, a música e as bebidas, mais especificamente, o maravilhoso coquetel de rum que lhe serviram, enfeitado com frutas e canudinhos. Os novos amigos eram divertidos e também estavam, como ele, entusiasmados com as perspectivas da viagem. Num determinado momento, porém, Maurício viu, apoiada no balcão, uma belíssima mulher morena. Ela era a típica latina, com grandes cabelos negros cacheados, derramados sobre as costas nuas de um corpo perfeito, uma pele bronzeada e brilhosa, olhos muito escuros e misteriosos, os lábios carnudos e sensuais. Usava um vestido justo, decotado e estampado e calçava delicadas sandálias baixas de amarrar no tornozelo. Enquanto a estudava, Maurício percebeu que, também ela já o encarava com interesse. E esqueceu-se da música, da bebida e dos amigos nesse pequeno jogo de sedução. Quando ela lhe sorriu, audaciosa, ele não pode conter-se e decidiu ir até ela. Aproximou-se e jogou logo sua melhor cantada:
- Oi! Tudo bom? Você acredita em amor à primeira vista ou eu preciso voltar pra lá e passar por aqui mais algumas vezes?
Ela lhe sorriu de volta, mas com uma enorme interrogação no semblante, denotando sua absoluta falta de compreensão do idioma português. Por esta ele não esperava e toda a sua energia para a paquera esvaiu-se num suspiro. Ela lhe perguntou:
- Do you speak English?
Ele sacudiu a cabeça, desanimado:
- No, no, no...
Ela não desistiu:
- Parlez vous Français?
- No, no, no...
Então foi a vez dela suspirar, derrotada. Ele não podia acreditar que perderia a oportunidade de conhecê-la melhor e, quem sabe, viver sua primeira aventura internacional. E teve a idéia:
- ¿Hablas Español?
Seu rosto iluminou-se e ela respondeu, feliz:
- Si! Yo hablo español!
- Yo no! – respondeu ele, dando-se conta de que tudo o que sabia do idioma já havia sido dito nas duas últimas frases.
Porém, a atração entre os dois foi tão forte que, de alguma forma, eles começaram a se comunicar. Ela falava em espanhol, bem devagar para que ele tentasse entendê-la e ele, tentava se fazer entender em português mesmo. Assim, ele descobriu que ela chamava-se Isabel.
A palavra mais dita durante essa pequena Babel foi “Como?”. A cada vez que um dos dois não conseguia mesmo entender o que o outro dizia, perguntava:
- Como?
E o outro tentava explicar com gestos, sorrisos e até desenhos nos pequenos guardanapos coloridos do balcão.
Mas, certamente, esse diálogo levaria muito mais tempo do que ele tinha para estar ali e logo seus amigos vieram chamá-lo para um outro bar. Ele pegou então o último guardanapo e escreveu seu nome e o telefone de Gonçalves, entregando-o a ela e pedindo-lhe que lhe telefonasse no dia seguinte, para poderem continuar a conversa.
Saiu angustiado do bar, sem saber se ela o havia entendido, se lhe telefonaria.
No dia seguinte, depois do almoço, despediu-se dos outros e foi encontrar-se com Gonçalves. O amigo o recebeu efusivamente, providenciou suas acomodações e convidou-o a tomar um drinque. Assim que se acomodaram nos sofás, de copos nas mãos, o telefone tocou. Após atendê-lo, Gonçalves lhe passou o fone, surpreso:
- É pra você! Quem já te achou aqui?
Maurício ficou feliz, certo de que seria Isabel e pegou o telefone excitado.
De fato, era ela. Porém, se pessoalmente, a conversa era complicada, por telefone, era impossível. E ele devolveu o aparelho ao seu anfitrião, para que o ajudasse na tradução.
Gonçalves conversou com a moça, e ele, ansioso, sem entender nada do que estava sendo dito, circulava em volta, perguntando:
- E aí? E aí?
Mas o amigo apenas lhe sinalizava que esperasse.
Ao final de uns quinze minutos dessa tortura, ele finalmente desligou o telefone e vaticinou:
- Esquece, Maurício. Essa mulher não é pra você.
- Como assim? Do que você está falando?
- Escuta seu amigo. Sai dessa. Parte pra outra.
- Por quê, cara? Qual é o problema dela?
- Tá decidido! Esquece. Já disse a ela pra não ligar mais.
Maurício nunca conseguiu descobrir o motivo do conselho do amigo. Também nunca mais encontrou Isabel. Ainda voltou ao bar da véspera algumas vezes, sem sucesso. Finalmente, pouco antes de voltar ao Brasil, acabou perdoando Gonçalves pelo que ele entendia ser uma brincadeira de péssimo gosto. Perdoou e, no final, até achou graça.
Mas, por via das dúvidas, logo que retornou ao país, matriculou-se num cursinho intensivo de espanhol.
Dois meses separado, depois de um casamento turbulento onde as brigas por ciúme eram uma constante, Maurício estava adorando sua recém adquirida liberdade. E nem pestanejou quando seu grande amigo Gonçalves o convidou para visitá-lo na Jamaica. Negociou com o chefe a antecipação de uma parte de suas férias, limpou a poupança e resgatou o título de capitalização, para comprar a passagem.
Já no aeroporto, bem humorado e cheio de piadas para contar, enturmou-se rapidamente com um pequeno e animado grupo de rapazes que também ia para a terra do reggae. Assim, ao desembarcar no calor caribenho, resolveu passar a primeira noite em companhia dos novos amigos, antes de ir encontrar-se com Gonçalves.
Foram a um bar onde uma fumaça característica enevoava as vistas e o raciocínio. A um canto três homens muito negros e bonitos, com seus cabelos rastafari e roupas muito coloridas executavam um reggae antigo de Peter Tosh. Maurício estava extasiado com o ambiente, a música e as bebidas, mais especificamente, o maravilhoso coquetel de rum que lhe serviram, enfeitado com frutas e canudinhos. Os novos amigos eram divertidos e também estavam, como ele, entusiasmados com as perspectivas da viagem. Num determinado momento, porém, Maurício viu, apoiada no balcão, uma belíssima mulher morena. Ela era a típica latina, com grandes cabelos negros cacheados, derramados sobre as costas nuas de um corpo perfeito, uma pele bronzeada e brilhosa, olhos muito escuros e misteriosos, os lábios carnudos e sensuais. Usava um vestido justo, decotado e estampado e calçava delicadas sandálias baixas de amarrar no tornozelo. Enquanto a estudava, Maurício percebeu que, também ela já o encarava com interesse. E esqueceu-se da música, da bebida e dos amigos nesse pequeno jogo de sedução. Quando ela lhe sorriu, audaciosa, ele não pode conter-se e decidiu ir até ela. Aproximou-se e jogou logo sua melhor cantada:
- Oi! Tudo bom? Você acredita em amor à primeira vista ou eu preciso voltar pra lá e passar por aqui mais algumas vezes?
Ela lhe sorriu de volta, mas com uma enorme interrogação no semblante, denotando sua absoluta falta de compreensão do idioma português. Por esta ele não esperava e toda a sua energia para a paquera esvaiu-se num suspiro. Ela lhe perguntou:
- Do you speak English?
Ele sacudiu a cabeça, desanimado:
- No, no, no...
Ela não desistiu:
- Parlez vous Français?
- No, no, no...
Então foi a vez dela suspirar, derrotada. Ele não podia acreditar que perderia a oportunidade de conhecê-la melhor e, quem sabe, viver sua primeira aventura internacional. E teve a idéia:
- ¿Hablas Español?
Seu rosto iluminou-se e ela respondeu, feliz:
- Si! Yo hablo español!
- Yo no! – respondeu ele, dando-se conta de que tudo o que sabia do idioma já havia sido dito nas duas últimas frases.
Porém, a atração entre os dois foi tão forte que, de alguma forma, eles começaram a se comunicar. Ela falava em espanhol, bem devagar para que ele tentasse entendê-la e ele, tentava se fazer entender em português mesmo. Assim, ele descobriu que ela chamava-se Isabel.
A palavra mais dita durante essa pequena Babel foi “Como?”. A cada vez que um dos dois não conseguia mesmo entender o que o outro dizia, perguntava:
- Como?
E o outro tentava explicar com gestos, sorrisos e até desenhos nos pequenos guardanapos coloridos do balcão.
Mas, certamente, esse diálogo levaria muito mais tempo do que ele tinha para estar ali e logo seus amigos vieram chamá-lo para um outro bar. Ele pegou então o último guardanapo e escreveu seu nome e o telefone de Gonçalves, entregando-o a ela e pedindo-lhe que lhe telefonasse no dia seguinte, para poderem continuar a conversa.
Saiu angustiado do bar, sem saber se ela o havia entendido, se lhe telefonaria.
No dia seguinte, depois do almoço, despediu-se dos outros e foi encontrar-se com Gonçalves. O amigo o recebeu efusivamente, providenciou suas acomodações e convidou-o a tomar um drinque. Assim que se acomodaram nos sofás, de copos nas mãos, o telefone tocou. Após atendê-lo, Gonçalves lhe passou o fone, surpreso:
- É pra você! Quem já te achou aqui?
Maurício ficou feliz, certo de que seria Isabel e pegou o telefone excitado.
De fato, era ela. Porém, se pessoalmente, a conversa era complicada, por telefone, era impossível. E ele devolveu o aparelho ao seu anfitrião, para que o ajudasse na tradução.
Gonçalves conversou com a moça, e ele, ansioso, sem entender nada do que estava sendo dito, circulava em volta, perguntando:
- E aí? E aí?
Mas o amigo apenas lhe sinalizava que esperasse.
Ao final de uns quinze minutos dessa tortura, ele finalmente desligou o telefone e vaticinou:
- Esquece, Maurício. Essa mulher não é pra você.
- Como assim? Do que você está falando?
- Escuta seu amigo. Sai dessa. Parte pra outra.
- Por quê, cara? Qual é o problema dela?
- Tá decidido! Esquece. Já disse a ela pra não ligar mais.
Maurício nunca conseguiu descobrir o motivo do conselho do amigo. Também nunca mais encontrou Isabel. Ainda voltou ao bar da véspera algumas vezes, sem sucesso. Finalmente, pouco antes de voltar ao Brasil, acabou perdoando Gonçalves pelo que ele entendia ser uma brincadeira de péssimo gosto. Perdoou e, no final, até achou graça.
Mas, por via das dúvidas, logo que retornou ao país, matriculou-se num cursinho intensivo de espanhol.